Fábio
Trancolin
Voltando
no tempo da imaginação, numa máquina inventada pelo “Professor Pardal”, e como
numa página de gibi, aterrisso numa manhã de outono dos anos da bela
infância... Na minha memória, as lembranças estão sempre borbulhando e
convidando a voltar nos bons tempos da liberdade dos portões abertos, sempre
escancarados à espera dos amigos... Sempre pronto para aprontar alguma, não
conseguia sossegar e ficar parado, era movido a estripulias, e menino arteiro é
criativo sempre inventa.
Nas
noites das ruas sem asfalto, da iluminação fraca do poste de madeira, na dança
do fogo do “Bombril”’ na roda em
chama iluminava o cabelo da menina, colocava bombinha debaixo da latinha só pra
vê-la subir... Como ela ia alto... No pique-esconde, “pega a bandeira”’, “pega
ladrão”... “Balança você, balança
caixão...” Nos tempos de apertar campainhas e desligar relógio era farra na
correria e alegria. Não era maldade, digamos que era uma felicidade na
brincadeira ingênua. O tempo passou e a “maldade”
cresceu e se transformou...
Quando
eu morei no casarão branco de portas e janelas de madeira vermelha... Nos
quintais de variedades frutíferas, manga, caju, goiaba (branca e vermelha) e
jabuticabas, eram oito pés das “bitelas” pretas, quando os pés carregavam a
molecada juntava e, numa dessas manhãs, eu e os amigos estávamos no alto dos
galhos no plic, ploc, eu só lembro-me
de ver uma enorme, tentar alcançar e mais nada lembrar... Os amigos (Mario,
Cleber, Chininha, Murilo e o Jairinho) contam, que despenquei do alto da
jabuticabeira e do jeito que caí, fiquei... Eles entram em desespero, não tinha
ninguém em casa, me carregaram (sabe lá de que jeito) e me colocaram no sofá...
Quando despertei meia hora depois do sono profundo, todos ao meu lado com cara
de assustado. A mãe me abanava e esfregava álcool nos braços. O susto foi grande,
passei o dia com uma “baita” dor de cabeça, e um tanto quanto tonto...
Outro
susto proporcionado por outra queda de árvore foi numa manhã de domingo. A
molecada como sempre se reunia na quadra do Tiro de Guerra, e ao lado da quadra
tinha um grande pé de amora, e quase sempre estava carregado. Lá estávamos nós
na colheita das enormes e suculentas ‘roxas’.
Tinha um monte de menino “trepado”, eram muitos, quando um dos soldados disse
que o sargento tinha proibido e era pra todos descerem, assustou a todos, o tal
do ‘reco’ é um cara chato, e começou com as ameaças, e disse o sargento vem
vindo, pode correr... Os que estavam mais acima começaram a gritar, desce,
anda, corre... E numa dessa de tentar acelerar, desci direto e caí em cima do
braço, que literalmente dividiu o “rádio”, não chegou a ficar exposto, mas dava
para perceber a gravidade... Pegaram-me com cuidado, tinha pelo menos uns três
segurando o braço, que assustava quem olhava para fratura... Chegando lá em
casa, lá vem o pai nervoso, “mas não é possível, o que você aprontou dessa
vez?...” Só respondi caí...
Fui
levado para o Hospital Evangélico, chegando lá não me atenderam. Na porta o
Valdemar da sapataria nos colocou dentro do corcel II, e nos levou para o Santa
Terezinha. Quem me atendeu o foi o Doutor Vicente Guerra, eu só ouvia, não
falava, mas escutava, “talvez vai ter que puxar para colocar no lugar, e se
acontecer vai doer...” Mas não foi preciso. Nunca tinha quebrado nada, aquela
foi a primeira vez (tiveram outras depois), voltei para casa com o braço “encanado”,
um monte de amigos à espera. No outro dia, tive que voltar para o hospital,
teve que trocar o gesso, o braço inchou e apertou... Ai doeu... Na
escola, o gesso fez sucesso, todos queriam escrever. A fratura não me afetou
nos estudos, pois eu quebrei o esquerdo, a escrita é destra. O mês era o
outubro, mês das crianças, a escola nos levou para brincar no Módulo esportivo.
Então eu senti ter quebrado o braço... A professora Dona Lena estava preocupada
comigo, ficou de olho e a coordenadora a Dona Lenilda, também, não joguei
futebol (apitei o jogo), não brinquei de corrida do saco, nem na prova da
corrida da colher, tudo para o “quebrado” estava proibido, só podia comer as
guloseimas ofertadas, o resto eu só observei... Pensa num menino triste. E
ainda esqueci o lenço que servia de tipoia, a mãe ficou uma “arara”, o lenço
era dela e, muito bonito por sinal.
O
período previsto para a imobilização era de 30 dias, e num sábado à tarde, 27
dias após a queda, o pai mergulhou o gesso no tanque e tirou, queria porque
queria jogar no domingo de manhã, não joguei, o braço afinou e ficou frágil, e
para não sofrer outro acidente tive que esperar... Outros acidentes de menor
proporção aconteceram, e tudo entrou para história e, assim, eu vou contando...