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segunda-feira, 31 de março de 2014

Os tombos na infância


Fábio Trancolin

Voltando no tempo da imaginação, numa máquina inventada pelo “Professor Pardal”, e como numa página de gibi, aterrisso numa manhã de outono dos anos da bela infância... Na minha memória, as lembranças estão sempre borbulhando e convidando a voltar nos bons tempos da liberdade dos portões abertos, sempre escancarados à espera dos amigos... Sempre pronto para aprontar alguma, não conseguia sossegar e ficar parado, era movido a estripulias, e menino arteiro é criativo sempre inventa. 


Nas noites das ruas sem asfalto, da iluminação fraca do poste de madeira, na dança do fogo do “Bombril”’ na roda em chama iluminava o cabelo da menina, colocava bombinha debaixo da latinha só pra vê-la subir... Como ela ia alto... No pique-esconde, “pega a bandeira”’, “pega ladrão”... “Balança você, balança caixão...” Nos tempos de apertar campainhas e desligar relógio era farra na correria e alegria. Não era maldade, digamos que era uma felicidade na brincadeira ingênua. O tempo passou e a “maldade” cresceu e se transformou...

Quando eu morei no casarão branco de portas e janelas de madeira vermelha... Nos quintais de variedades frutíferas, manga, caju, goiaba (branca e vermelha) e jabuticabas, eram oito pés das “bitelas” pretas, quando os pés carregavam a molecada juntava e, numa dessas manhãs, eu e os amigos estávamos no alto dos galhos no plic, ploc, eu só lembro-me de ver uma enorme, tentar alcançar e mais nada lembrar... Os amigos (Mario, Cleber, Chininha, Murilo e o Jairinho) contam, que despenquei do alto da jabuticabeira e do jeito que caí, fiquei... Eles entram em desespero, não tinha ninguém em casa, me carregaram (sabe lá de que jeito) e me colocaram no sofá... Quando despertei meia hora depois do sono profundo, todos ao meu lado com cara de assustado. A mãe me abanava e esfregava álcool nos braços. O susto foi grande, passei o dia com uma “baita” dor de cabeça, e um tanto quanto tonto... 

Outro susto proporcionado por outra queda de árvore foi numa manhã de domingo. A molecada como sempre se reunia na quadra do Tiro de Guerra, e ao lado da quadra tinha um grande pé de amora, e quase sempre estava carregado. Lá estávamos nós na colheita das enormes e suculentas ‘roxas’. Tinha um monte de menino “trepado”, eram muitos, quando um dos soldados disse que o sargento tinha proibido e era pra todos descerem, assustou a todos, o tal do ‘reco’ é um cara chato, e começou com as ameaças, e disse o sargento vem vindo, pode correr... Os que estavam mais acima começaram a gritar, desce, anda, corre... E numa dessa de tentar acelerar, desci direto e caí em cima do braço, que literalmente dividiu o “rádio”, não chegou a ficar exposto, mas dava para perceber a gravidade... Pegaram-me com cuidado, tinha pelo menos uns três segurando o braço, que assustava quem olhava para fratura... Chegando lá em casa, lá vem o pai nervoso, “mas não é possível, o que você aprontou dessa vez?...” Só respondi caí... 

Fui levado para o Hospital Evangélico, chegando lá não me atenderam. Na porta o Valdemar da sapataria nos colocou dentro do corcel II, e nos levou para o Santa Terezinha. Quem me atendeu o foi o Doutor Vicente Guerra, eu só ouvia, não falava, mas escutava, “talvez vai ter que puxar para colocar no lugar, e se acontecer vai doer...” Mas não foi preciso. Nunca tinha quebrado nada, aquela foi a primeira vez (tiveram outras depois), voltei para casa com o braço “encanado”, um monte de amigos à espera. No outro dia, tive que voltar para o hospital, teve que trocar o gesso, o braço inchou e apertou... Ai doeu... Na escola, o gesso fez sucesso, todos queriam escrever. A fratura não me afetou nos estudos, pois eu quebrei o esquerdo, a escrita é destra. O mês era o outubro, mês das crianças, a escola nos levou para brincar no Módulo esportivo. Então eu senti ter quebrado o braço... A professora Dona Lena estava preocupada comigo, ficou de olho e a coordenadora a Dona Lenilda, também, não joguei futebol (apitei o jogo), não brinquei de corrida do saco, nem na prova da corrida da colher, tudo para o “quebrado” estava proibido, só podia comer as guloseimas ofertadas, o resto eu só observei... Pensa num menino triste. E ainda esqueci o lenço que servia de tipoia, a mãe ficou uma “arara”, o lenço era dela e, muito bonito por sinal. 

O período previsto para a imobilização era de 30 dias, e num sábado à tarde, 27 dias após a queda, o pai mergulhou o gesso no tanque e tirou, queria porque queria jogar no domingo de manhã, não joguei, o braço afinou e ficou frágil, e para não sofrer outro acidente tive que esperar... Outros acidentes de menor proporção aconteceram, e tudo entrou para história e, assim, eu vou contando...




quinta-feira, 27 de março de 2014

A ratoeira - Fábio Trancolin





segunda-feira, 24 de março de 2014

A caixa do faz de conta chegou lá em casa


Fábio Trancolin

O ano era 1974, ela chegou lá em casa. Era novidade e pura fantasia. A partir daquele momento, ela estaria na nossa sala, em frente ao sofá de napa. Era grande e foi colocada numa mesa, especialmente feita, para ela. Eu tinha cinco anos, faria seis em setembro daquele ano. Que felicidade, iríamos assistir o Vila Sésamo, eu adorava o Ênio e o Jairo, víamos também os Bananas Split (o cão Fleegle, o gorila Bingo, o leão Drooper, e o elefante Snorky), adorava o quarteto musical. Naqueles tempos, ela era um belo entretenimento nos “segurava” e “educava”.  


Lembro que o pai comprou de segunda mão, não foi na loja, ele fez um serviço e ela entrou no negócio. O pai fez um guarda roupas para o Rafael Aguirre e, era ano de copa do mundo, e adquiriu uma TV colorida (foi a primeira vez que vi uma na minha vida, como era linda), e o pai ficou com a Artel que para gente era um espetáculo. E num final de tarde, o Tio Juvenil ajudou o pai a levá-la para casa, foi um acontecimento, afinal, agora tínhamos a nossa caixa mágica. Em junho, começou a copa da Alemanha, recordo o pai colocando uma colcha laranja na janela para que o sol não atrapalhasse assistir aos jogos da seleção. Dos jogos, me recordo pouco, lembro-me da propaganda do Continental. Na copa, o Brasil decepcionou, era o campeão do mundo, porém não chegou à final.  


E aquela caixa grande ficou na sala, ela era dona do pedaço. Os desenhos Hanna-Barbera nos encantavam, Tom & Jerry, Jambo & Ruivão, Plic, Ploc & Chuvisco, Zé Colmeia, Pepe Legal, Bibo Pai & Bob Filho, Olho Vivo & Faro Fino, Os Flinstones, Manda Chuva, Os Jetsons, Jonny Quest, Os Mussarelas, Corrida Maluca e Os Impossíveis. Chegávamos da escola e íamos nos sentar de frente da tela grande, comendo bolinho de chuva. Adorávamos assistir Túnel do tempo e Terra de gigantes e a Turma do Lambe-Lambe, o programa criado pelo Daniel Azulay.


Não sei se naquele tempo televisão era perigosa para o domínio da massa (mas era), era vista como diversão, todos se reuniam para ver as novelas e os telejornais. Não havia tantas opções de canais, na minha casa, eram dois, a TV Anhanguera e TV Brasil Central (Bandeirantes), os programas humorísticos eram muito mais engraçados, Chico City e Planeta dos homens. E as novelas, essas, sim, seguravam a atenção de todos, mas, convenhamos eram muito diferente “e interessante”. Naquela época, eu adorava Os Trapalhões (adorava o Mussum e o Zacarias) nos domingos, à noite, antes do Fantástico (Olhe bem, preste atenção, nada na mão, nesta também. Nós temos mágica para fazer, assim a vida ali para ver... É Fantástico, da idade da pedra, ao homem de plástico, o show da vida...). E tem um programa que jamais esquecerei, esse marcou algumas gerações, o Sitio do pica pau amarelo. Passava pela manhã para aqueles que iam à escola, à tarde, e os alunos de tarde viam pela manhã. 


Os amigos que não tinham televisão se deliciavam na minha casa, era bom tê-los por perto. Essa aproximação do vizinho assistir TV na casa dos outros, isso era socialização. Os programas de músicas eram suportáveis e dava para ouvir... Hoje não se pode dizer o mesmo. O pai gostava de um programa que passava aos sábados à tarde, programa de auditório apresentado pelo “Coronel Hipopota (o Chacrinha goiano), morreu em 1982, em consequência de um acidente, foi atropelado por uma bicicleta.


Como dizia a amiga Rosane Reis, a televisão era um objeto ‘endeusado’, tinha toalhinha para cobrir e poucas pessoas podiam mexer. Dez anos depois da chegada da caixa do ‘faz de conta’ na minha casa, o pai comprou uma TV em cores, uma Philco Hitachi, não tinha o seletor, mudava os canais apertando os botões, chique para época. Uma televisão colorida, nossa era tudo de bom, era magia e fantasia, futebol e corrida de Fórmula um...  Mas, ela logo foi embora, tempo difíceis aqueles. Em 2014 completou 40 anos, que ela veio fazer parte da família! ‘Vendo a vida mais vivida que vem lá da televisão’. Já gostei mais dela, nesses anos ela mudou muito. Cada dia meu encanto por ela diminui, eu fui apaixonado por ela, por suas curvas (horizontais e verticais) e seus mistérios, porém esses mistérios perderam a graça, ela não me seduz mais como antes... Nos tempos em que me encantava em olhar Gabriela cravo e canela, (A pantera) Farrah Fawcett e a bela Linda Carter (Mulher Maravilha), a beleza você via e o resto era por conta do teu imaginário...


O sociólogo francês Pierre Bourdieu diz que a Televisão “esconde, mostrando e mostra o irrelevante para esconder o que interessa”. Entre outras coisas da TV, Bourdieu destaca dois tipos de debates, os “verdadeiramente falsos” e os “falsamente verdadeiros.” Resumindo, a televisão dentro do verdadeiro, tudo é falso e assim ela vai manipulando a massa, e conduzindo.  “Eh, vida de gado, povo marcado, povo feliz...”.





segunda-feira, 17 de março de 2014

O raio de luz que não nos iluminou



Fábio Trancolin

                                                                                                    Foto ilustrativa
Nos bons tempos do futebol jogado em qualquer lugar, quadra, campinho, ou seja, lá onde for... Nos campeonatos de intercalasses, bairro contra bairro e, também, os times de final de semana que eram escolhidos no par ou ímpar. Na minha infância, tinha muito disso. E, num desses times, fui chamado para fazer parte, quem montou foi o Hélio Rosa e, também, fazia parte o Cairo, Eliomar, Júlio. O Hélio tinha algumas camisas do Vasco da Gama e, por esse motivo, o time foi chamado de “Vasquinho do Jardim América”. Então com esse “esquadrão” fomos participar do campeonato organizado pela “Escola Raio de Luz”. Quem organizou foi o professor Altiture, a escola era para alunos especiais, e essa prática era uma forma de terapia. Também, fizeram parte daquele campeonato o time da “Sapataria Silva” que tinha dois fora de série, os irmãos Tom e Preto, o time da AABB que era dirigido pelo treinador Pierre (ele era um amante do esporte amador), o Clube Campestre treinado pelo professor Bosco.

                                                                                                   Foto ilustrativa

O regulamento previa que até 13 anos poderia jogar na linha, quem tivesse mais, só no gol. O ano era 1982 eu iria completar quatorze em setembro, então pela lógica eu estaria iberando para jogar na linha. Porém a “Liga” não aceitou e eu teria que me contentar de jogar no gol, eu era um bom goleiro, mas queria mesmo era fazer gols, e não levar... Então, o Pierre e o Professor afirmaram que eu não tinha a idade que eu falava. O Pierre em tom de “chacota” disse: “Se você provar o que está dizendo eu te pago 5.000 mil” (Essa grana nos ajudaria a comprar um jogo de camisas que nós estávamos de olho lá na Casa Lacerda) fiquei “maluco”, pois tinha como provar que eu falava a verdade, e iria ganhar aquela grana... Corri feito um “doido” em casa para pegar o registro, e voltei todo satisfeito com ele nas mãos, quando entreguei e ele viu o ano e comprovava a minha idade, só que no meu registro tem um detalhe, eu nasci em 68, mas o pai me registrou em 70, e isso fez a diferença... Pois ele disse que o meu registro estava errado, eu poderia não ter a idade que dizia... Fiquei “puto”, disse, se o pai fosse mentir a minha idade ele teria tirado dois anos e não colocado a idade correta, mas não teve jeito, ele não pagou a aposta e não ganhamos a grana (muita sacanagem da parte dele, para ele não era nada esse valor, mas pra gente faria a diferença). Mas o que me deixou chateado, foi que no time do Campestre tinha dois que eram mais velhos do que eu, e jogaram na linha, o professor, carinhosamente, o tratava com todo esmero, pra falar a verdade “bajulava” mesmo, o “Bruninho” e o “Flavinho”, na nossa análise a diferença de tratamento era simples, os dois eram “filhinhos de papai”... Fomos vítimas de preconceito social. 
 
                                                                                                   Foto ilustrativa
O torneio começou, a maioria dos jogos era na quadra da escola, que chamávamos de “Ralo de luz”, o cimento era “cascudo” e conforme a queda o estrago era grande, tenho uma cicatriz na perna direita que ganhei lá. Mas tiveram jogos no Clube Campestre. E, também, na quadra da AABB e, outra vez ali, sentimos certo “toque” de humilhação, antes do jogo, foi-nos avisado que não seria aceito ninguém de “Kichute” na quadra, pois ela era de taco e nós iriamos arranhar o piso, “só entra se tiver de tênis, o ‘Kichutão’ aqui não”, esbravejou o Pierre. Demos um jeito e ninguém arranhou a casa do mandante. E estávamos na quadra esperando a entrada do adversário, quando sai o time do vestiário todo de azul, com uniforme que seria estreado naquele dia, todos eles de tênis Topper e Rainha, tudo novo. Nossas camisas desbotadas e algumas com remendos, jogamos e fomos massacrados pelo rival, não bastava só a humilhação social, teve a do placar elástico. Perdemos quase todos os jogos, mas do Raio de luz não, deles, nós ganhamos. E, de certa forma, vencemos todos os jogos, pois o time de camisas rasgadas foi lá e enfrentou o preconceito e os meninos da escola também, com toda a deficiência mostraram o seu valor. Espero que os garotos de camisas azuis, também, tenham aprendido alguma coisa. 


segunda-feira, 10 de março de 2014

O armazém de alguém


Fábio Trancolin

Atualmente, e tem-se a facilidade de entrar em um supermercado e encontrar uma enorme variedade, marcas e mais marcas num colorido e cheiros que te confundem. E são muitos os empregados para fazer essa máquina girar, já fiz parte do quadro de funcionários de um supermercado e sei como é estar por detrás das cortinas. Rio Verde hoje tem mais de 50 supermercados. Nos, tempos de menino, tínhamos três, o Serve Rio Verde, o Líder e o Pegue Pague Moraes. Tinham também, os depósitos do João Uberaba e o Ypiranga do Mauruzam, o resto era tudo armazéns, e eram muitos. 


E falando dos amigos dos Secos e Molhados, muitos marcaram o nome na história da cidade, “Armazém do Tau” que ficava na Rua Major Oscar Campos e depois passou a funcionar na Rua Coronel Vaiano, o do João Jaime por muitos anos esteve ali nas esquinas das Ruas Itagiba Gonzaga com Major Oscar Campos, o garoto Sirlim iniciou a função de atendente ali, dali, também, saiu o Juarez que abriu o dele na Rua Augusta Bastos. O Zé da Venda outro que era referência, nas esquinas da Laudemiro Bueno com Dário Alves de Paiva. O Armazém do Nelito na Augusta Bastos, que teve com funcionário o Lazinho Faria, que mais tarde viria abrir o Comercial Faria. O Armazém do Pedro Honório era ponto de discussões, ficava nas esquinas da Avelino Faria com a Presidente Vargas, ali se reuniam fazendeiros e outras personalidades, quando passávamos na porta, lá estavam eles sentados, às vezes, até em cima do balcão tinha gente. O Armazém do Zé Cipó, na Rua Dario Alves de Paiva, outro que também deixou saudades...

Armazém do Tau
No Mercado Velho, tinham os armazéns do Joaquim Cândido e João Quito, esse último ainda está de portas abertas, mas poucas coisas ainda têm lá. No chamado Mercado Novo onde hoje funciona a Secretária de Promoção Social, também, tinham os seus, numa ponta, o do Joãozinho e, no outro extremo, o do Lucas, no meio tinha o seu Joaquim. Na esquina, na rua de cima, tinha o Armazém do Donaldo, ali o meu bom amigo Nevilton começou a trabalhar. No início da década de 80, os irmãos Neves resolveram abrir um comercial, e com o passar do tempo mudou o segmento e se transformou na loja de materiais para construção. No final da década de 70, o turco Mamed inaugurou um belo supermercado na ‘Presidente’ onde hoje é a loja do Novo Mundo, mas não foi longe, logo baixou as portas, o meu pai fez serviço para os dois, os ‘Neves’ e o ‘turco’. Outro que veio, abriu e não manteve, foi o Minibox do Grupo Pão de Açúcar, ele ficava ali, onde está hoje o Supermercado dos Calçados na Presidente Vargas, isso aconteceu em 1985, por um tempo eu prestei serviço para eles fazendo cadastro de cartão do Grupo Jumbo Eletro/Sandiz, eles, implantaram a venda de eletrodomésticos por um determinado tempo, não emplacou, naufragou. No Bairro Popular, o armazém do Seu João, cresceu virou Economia. No centro da cidade, o comercial de secos e molhados do Sirlim, cresceu e virou Campeão. 


Quase todos esses comerciantes tinham o hábito da caderneta, meu pai tinha conta no Armazém do Jacenil, ele ficava em frente à Escola Eugênio Jardim, muitas e muitas vezes, eu e meu irmão fomos ali buscar as compras da semana. Uma vez, lá íamos os dois subindo a Rua Laudemiro Bueno quando desceu um ‘monte’ de cachorros, eles estavam atrás de uma cadela no cio, eu fui atropelado pelos caninos desesperados, caí e bati a cabeça no poste, fiquei “grogue”... O Jairinho teve que levar as compras e me amparar, eu fiquei por um bom tempo tonto. Nas palavras dele “tonto eu não fiquei, tonto eu era”.


Na esquina da Avelino Faria e Augusta Bastos, em frente à casa que eu morei e o caminhão destruiu, tinha o armazém do Seu Otávio do “Zé do mato” e o cheiro desse estabelecimento nunca saiu da lembrança, era uma mistura de vassoura piaçaba e cordas e sacos de aniangem e outras especiarias. Outro que marcou, foi armazém do Seu Zé Mineiro o Santa Rita na Rua Goiânia, o estabelecimento está no mesmo lugar, Seu Zé já partiu. O Rui, o caçula dos irmãos, assumiu o negócio, encerrou as atividades de armazém, hoje virou bar, as prateleiras, o baleiro e o balcão ainda estão lá, mas, tudo está vazio, somente a memória é que está cheias das boas lembranças... Dos quatorzes filhos, 12 homens, pelo menos uns oito tiveram armazém, ainda dois têm as portas abertas. 


Na Rua Augusta Bastos, o Odilon ainda mantém o comércio dele aberto, está ali há 44 anos, comprei muito ali quando era garoto e morei na ‘Afonso Ferreira’, nos fim de tarde ia até lá comprar um doce de caju cristalizado. E por falar em doces, quantas ‘Maria Mole’ e suspiros cor de rosa e branco, “Zorro”, e outros doces eu saboreei, e como é bom lembrar o cheiro da rosca de coco e o pão que todos eles vendiam. Esses pontos eram lugar do bate papo e das rodas de “causo”. Todos eles tinham o baleiro cheio das balas coloridas, roda baleiro, roda... Para molecada, armazém era meio faz de conta, pois ali tinham muitas surpresas por detrás do balcão... Em quase todos, tinha um joguinho em que você comprava o direito de furar um tabuleiro, e a cor da bolinha que saísse determinava o prêmio que você ganharia, na maioria das vezes, saía a cor branca que não lhe dava direito a nada...  Como era legal comprar uma caixinha da sorte, era um brinquedinho “xexelento”, mas tinha lá a sua fantasia, bolinha de gude e bombinhas, a galinha azul e branca que botava ovinhos quando apertada, muitas dessas nós compramos no armazém do Seu Olguinol, na esquina da ‘Augusta’ com a ‘Almiro’. Na descida do campestre, tem o Comercial Cabral do meu amigo Mosvaldo que desde os 15 anos está atrás do balcão e há 45 anos serve a vizinhança, a Yasmin adora ir até lá e gastar todas as moedas em balas, chicletes e caramelos...  


Sei que faltaram muitos outros nomes de armazém que compuseram a história no crescimento da cidade, os do Parque Bandeirante, Vila Maria e os da saída do Montividiu na Pauzanes de Carvalho, a lista é imensa, não dá para esquecer o do Frederico na Rua Urcezino de Gusmão que o meu avô Francisco adorava comprar o fumo para o cachimbo, esse ponto depois passou para o pai da Rejaine, um pouquinho pra cima, o Seu Oliveira pai do Carlinhos tinha o dele. O “Armazém do Rosa” no Jardim Adriana, o do Garibaldi que ficava lá pra aqueles lados da “Carolina”. E como é bom recordar e sentir o cheiro de corda de bacalhau e fumo de corda, misturado com cheiro de querosene e cachaça servida no balcão e café moído na hora. Na lembrança, ficaram os saudosos armazéns da infância que enrolo na memória no papel na totalidade avermelhada que ficava em cima do balcão ao lado da balança e da estufa...



quarta-feira, 5 de março de 2014

A Galinhada do ‘Douradinho’



Fábio Trancolin

Hoje chamada de GO-210, nos tempos de menino, era a velha estrada para Santa Helena, e para aquelas bandas tinha o ‘Douradinho’, lugarzinho agradável. Lá moravam os parentes do Messias (Pretinho), a família dos Barros. Local bom de pescar, é um daqueles ‘Corguinhos’ bom de lambaris, era só jogar e pegar. Fui algumas vezes.


Uma vez em que fomos eu, o pai e o Jairinho, foi na época que eu quebrei o braço esquerdo, tinha caído do pé de amora que existia no fundo do Tiro de Guerra, quem colocou o gesso foi o amigo Dr. Vicente Guerra. Estávamos na beira do barranco, e era uma dificuldade colocar a isca, e “tava” bom naquele dia, era jogar e tirar o bichinho de rabinho “douradinho”, encheu uma vasilha, porém o meu irmão estava “puto” comigo, a todo o momento tinha que colocar isca no meu anzol, pois o gesso não permitia. Mas valeu, e valeu muito.


Numa outra oportunidade lá estivemos, fomos no Dodge Dart amarelo ouro que o pai tinha, a pescaria rendeu, ali sempre rendia. O danado do riacho era bom mesmo. Passamos o dia na beira do córrego. Finalzinho de tarde, nós fomos embora, quando chegamos à BR, o pai resolveu acelerar o possante, tinha pegado há pouco tempo, e ainda estava só na condução, ainda não tinha pisado fundo. Também, quando apertava o pé no pedal da direita, o combustível evaporava, aquele danado bebia... Aquilo era um exagero, teve algumas vezes que o pai misturou álcool e gasolina. Não existia ‘Flex’, era para economizar mesmo. O pai acelerou para ver o ponteiro deitar, parecia um avião e, também, imprudência... Estávamos eu, Jairinho e o Marcello e o primo João. E lembrei e avisei que tinha esquecido o meu ‘Kichute’ debaixo da árvore... O pai perdeu a graça com o “brinquedo” e ficou “brabo”, falou um monte, não iria voltar, só por causa do “Pretinho”... E teve que comprar outro, pois naquela época, o “pretinho básico” servia para tudo, escola, passear e jogar futebol, não tinha variedade era só um até rasgar ou, no meu caso, perder... Passado um tempo lá retornamos, e não é que o ‘danado’ estava lá, as vacas tinham “carimbado” ele, mas foi só lavar, e pronto... Acabei ficando com dois, sem variedade, só quantidade...


Uma vez, o pai e a turma da marcenaria foram lá, passaram o dia, e já estava escurecendo e os parentes do Messias estavam jantando, e não convidavam a turma da pescaria. Aquilo deixou alguns indignados e, para piorar, jogavam os ossinhos do frango no quintal. O convite não foi feito, então, aquilo atiçou a safadeza... O Leônidas pediu para o meu pai que observasse onde estava subindo as “penosas”. Escureceu, despediram, porém antes de irem embora visitaram o poleiro, O Waldomiro apanhava, estrangulava e entregava e o debaixo ensacava... Foi “adquirida” uma meia dúzia... Quando chegaram lá em casa só ouvia “Acende o fogo espicha o frango e tira as penas, pra galinhada essa panela está pequena...” Naquela noite, na minha casa, a galinhada varou a madrugada, regada a truco, cachaça e vinil na radiola...






domingo, 2 de março de 2014

Prece de Caritas