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sábado, 30 de novembro de 2013

Na época das tampinhas




Fábio Trancolin


Hoje lembrei a época do álbum de figurinhas que não completava de forma alguma, cada página tinha um eletrodoméstico ou utensílio, se completado você ganharia. TV, bicicleta, gravador, fogão, geladeira, faqueiro e jogo de panelas. Nunca vi alguém ganhar, ficávamos doidos comprando saquinhos e mais saquinhos, e nada de sair a desejada, a página praticamente completa e faltava aquela. Mas era legal, no tempo da inocência, essa era a malandragem e a maneira de enganar a boa fé da meninada, que corria atrás do carro com ferro velho para trocar pelos álbuns. A época das tampinhas que sempre tinha uma novidade. O guaraná Mineiro trouxe uma coleção de aviões de guerra, lembro que teve uma festa no Colégio Martins Borges, e venderam só o “Mineirinho”, e todas as tampinhas foram jogadas nos fundos do colégio, eu fiz a festa. Mas, com o tempo, elas sumiram. Na Copa do Mundo de 1978, lançaram a coleção com os jogadores, no tempo em que todos jogavam no Brasil, e juntávamos aquele monte de tampinhas... 



Teve uma coleção da Coca-Cola, era chamada Bingola, pegávamos as cartelas no distribuidor, e íamos colando as tampinhas até completar, e depois você ia até o depósito e trocava pelas miniaturas dos personagens Disney. Lembro que eu e o meu irmão íamos até o armazém que ficava ao lado de casa, onde o pai tinha conta e comprávamos o refrigerante (todos os dias, até que o proprietário avisou para o pai e ele pediu pra suspender a entrega) e pedíamos para anotar, era frustrante quando abria a tampinha e era repetida. Mas sempre tinha alguém para trocar, eu tinha muitos amigos que também colecionavam.


Outra coleção legal que teve naquela época foi o Futebolcards, ela trazia a foto do jogador e no verso o currículo dele. Cada envelope trazia três figurinhas e um chiclete (muito ruim por sinal), era maravilhoso ir até o armazém e abrir cada envelope. No aniversário do Mário, ele ganhou uma caixa fechada, não me lembro, mais era em torno de cinquenta envelopinhos que vinham na caixa. Depois ele comentou “Pô, cara, vieram muitas repetidas, não foi vantagem” o certo era comprar em vários lugares diferentes. Eu comprava na maioria das vezes, no mercado velho, no armazém do João Quito. Tinha aqueles cards que era muito difícil de encontrar, tinha o cartão de controle e por ali você sabia quem eram os jogadores daquele time que estava faltando. Eu estava no Bairro Popular com o pai, estávamos numa venda, e vi no balcão que tinha para vender os envelopes, pedi e ele me deu uns trocados, comprei só um envelope, e quando abri para surpresa lá estava o Zico (Não gostava e não gosto do Flamengo), mas o Artur Antunes Coimbra era diferente, fiquei muito feliz, eu era um dos poucos que tinha. Certo dia, eu fiquei puto da vida com o meu irmão, certa vez, ele trocou o Kleber do Cruzeiro por um litro de jabuticaba... As tampinhas não têm mais, se perderam com o tempo, os cards estão guardados. As figurinhas de chiclete só ficaram as da Fórmula 1, e um álbum que completei e sinto muito tê-lo perdido foi o da Copa do Mundo de 82. Guardar na memória é bom, mas ter no fundo da gaveta é melhor ainda.   

Coleção chiclete Ploc 1982




segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O importante é a boa música


Fábio Trancolin 
1989 em São Paulo aos 21 anos
Sempre fui apaixonado por música, amo música. Difícil ficar sem, não trabalho sem os fones nos ouvidos. E por falar em boa música e como eu adoro viajar no tempo, volto aos anos 80, em minha opinião, a melhor época da música, seja internacional ou nacional. Década das melhores bandas de rock nacional, foi uma safra e tanto aqueles anos dourados musicalmente falando, Legião Urbana, Capital Inicial, Roupa Nova, Blitz, Barão Vermelho, Biquíni Cavadão, Titãs, RPM, Kid Abelha e vários outros, algumas das bandas internacionais, Duran Duran, Culture Club, U2, Queen, Journey, Genesis, Chicago, Cindy Lauper, Rod Stewart, Toto, The Police, Madonna e o A-ha, a lista é imensa...


Na minha casa, não tinha toca-discos, só radio AM, a Frequência Modulado ainda não tinha chegado. As boas músicas vinham através da TV e, à noite, no rádio, conseguíamos sintonizar a frequência de Rio-São Paulo. Quando a FM chegou a Rio Verde na metade da década de 80 eu só tinha um radinho Motorádio AM, e ouvia a FM na rua, casa de amigos, porta de colégio ou quando o vizinho aumentava o volume, só assim pra ouvir “a voz de quem se ama” esse era o slogan da eterna amiga Arlen Matos, hoje estou sintonizado a ela online todos os dias na Rádio Executiva, Goiânia e, quando termina o horário dela, a frequência muda para a Alpha FM - São Paulo. 



Na década de 80, todos os dias às tarde na TV Bandeirante, passava um programa que eu adorava, era o Super Special, falava tudo sobre música. Entre vários clips que tive oportunidade de ver, uma banda chamou-me a atenção, era o A-ha, que inovou com vídeos clips, os das músicas Hunting high and low, e Take on me, marcaram época, me tornei fã da banda norueguesa lançada em 1984. Quando fui morar em São Paulo, tive a oportunidade de adquirir o meu primeiro aparelho de som 3em1, um Sharp que eu comprei no Largo oito de setembro na Penha, nas Lojas Buri. Era uma felicidade entrar no Mappin ou nas lojas das Avenidas São João e Ipiranga, ali folheava os LPs, vários comprei. É claro que os do A-ha foram os primeiros, eles já tinham lançado dois; o ‘Hunting and low’ e o ‘Scoundreal Days’. E fui juntando, diversificando, sempre fui muito eclético em questão de música, de Raul Seixas a Beatles, Elvis a Oswaldo Montenegro, Chrystian e Ralf a Cazuza... E as maravilhosas baladas do Air Supply... O importante é a boa música. 



Morando em São Paulo, tive a oportunidade de ver vários shows e me arrependi de não ter visto vários outros... Nas sextas-feiras no vão do Viaduto do Chá, tinha o projeto das 18:00 horas, ali tive a oportunidade de ver gratuitamente, Sá & Guarabira, Fagner, Roupa Nova, Biquíni Cavadão, Capital Inicial, Pepeu & Moraes Moreira, Elba Ramalho, Zezé Di Camargo & Luciano, Belchior, Fábio Junior, Banda Cheiro de Amor, RPM, e Lulu Santos... No Olímpia eu fui ver o Rei Roberto Carlos... Na noite de domingo de 17 de março de 1989, no Parque Antártica o show que entrou para história, o  A-ha, no estádio do meu Alviverde imponente, eu tive a oportunidade de presenciar os noruegueses Morten, Paul e Magne darem um verdadeiro espetáculo. 


O tempo passou, a música sofreu uma grande mudança, e muita coisa ruim comercialmente falando apareceu, alguns insistem em colocar no som automotivo uma coisa chamada funk e uma batida insuportável que afeta os ouvidos de quem gosta de música. Por isso, a viagem no tempo da boa música e nos ouvidos os ‘foninhos’ sintoniza a rádio leve da cidade na voz de veludo, é muito melhor com você.   










segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As mudanças são necessárias, muitas vezes inevitáveis


Fábio Trancolin


Na viagem do tempo, volto a um ano em que houve muitas mudanças, e alteraram roteiros, comportamentos e pensamentos, foram mudanças que atravessaram rios e fronteiras.  As mudanças são necessárias, muitas vezes inevitáveis, as mudanças são tão inevitáveis quanto as lembranças e, por isso, retorno ao ano de 1981. Depois de tantos anos morando na parte baixa da cidade, lugar que me trouxe muitas alegrias e boas lembranças. No início daquele ano, mudamos para a Rua Augusta Bastos a casa ficava próxima ao Colégio do Sol (ainda vou contar a história desse colégio). Pra falar a verdade, senti muito essa mudança, saí de perto dos bons amigos, não que a cidade fosse tão grande e as distâncias intransponíveis, não, não era isso, mas fiquei longe do ponto que me deixava muito feliz.


No ano anterior, eu tinha abandonado a escola, algo que me deixou muito triste, uma frase pode destruir alguém, e alguém me disse uma frase que estragou o meu ano letivo (desigualdade social). E, em 81, fui matriculado no colégio que deveria ter ido um ano antes, o Oscar Ribeiro da Cunha. Meus amigos estavam estudando na parte da manhã, eles estavam na 6ª série, eu ainda tinha que concluir a 5ª, então tive que me contentar em estudar no período vespertino, algo que me deixou um tanto quanto contrariado, pois alguém estava de manhã, e eu não iria compartilhar da tua companhia, ‘O melhor lugar do mundo é a boa companhia, ou a sua companhia’. O pai comprou todos os materiais escolares daquele ano (comprou não, trocou por serviços, que não deixa de ser uma compra...) a Papelaria Montreal foi o pai que fez toda a parte de prateleiras, e houve a permuta, maravilha, tudo da melhor qualidade e quantidade. 


Algumas coisas que marcaram o mundo naquele ano já tinham acontecido, o presidente da superpotência sofreu um atentado, e o Papa, também, tentaram matar Ronald Reagan e João Paulo II. Eles não morreram, mas, um dos ídolos da minha infância, sim, Amâncio Mazzaropi, o jeca mais famoso do Brasil voltou à Pátria Espiritual naquele ano, eu adorava os filmes dele. Pelé tinha sido aclamado o atleta do século, não pelo que falava e sim pelo que jogava... Roupa Nova lançava o primeiro LP. E a bomba dos “milicos” tinha feito estrago no atentado do Riocentro. Mas, agora entra a parte da mudança. No meio do ano, os meus pais decidiram que deveríamos mudar para capital paulista. E, em casa, estava decidido, vamos mudar... Tudo foi vendido, até o Dodge Dart 1974, amarelo ouro, foi passado nos cobres, senti muito essa venda. E mudamos... 

Rua Êneas de Barros - Colégio Professor José Campos Camargo
Chegamos à terra da garoa no final do mês de julho, frio, muito frio... Eu, a mãe, e o Marcello, o pai e o Jairinho ficaram por certo tempo no Planalto Central...  Eu tinha 12 anos, tudo eram novidades, diferente e sem amigos, apenas os primos, mas, menino logo se ambienta. No dia em que cheguei à tia Neide, ela disse, ele vai ficar lá em casa (foi uma das melhores coisas), eu fui para a casa dela que ficava na Rua Enéas de Barros, as primas da mesma idade a Deborah e a Claudia logo me apresentaram praticamente toda a rua... A tia fez a matricula no Colégio Professor José Campos Camargo, horário completamente atípico pra quem estava acostumado em Rio Verde, em Sampa as aulas começavam 15:20 e terminavam às 19:20, não se usava o uniforme tradicional, calça cáqui e camisa branca com bolso bordado, era apenas um avental branco. No Oscar, eu tinha 12 matérias no ‘Camarguinho’ eram apenas seis, mas que valiam por 24, e os materiais não foram aproveitados... Agora imagina dois ‘capiauzinhos’ vindo do interior do país e chegar numa sala de aula de uma metrópole... Os colegas perguntavam se os índios andavam pelados nas ruas da minha cidade e se víamos onças por perto, essa era a imagem que pintavam do Brasil Central. Pra finalizar essa parte eu não me adaptei ao sistema imposto pela escola e reprovei... Meu terceiro colégio e segunda 5ª série que ia para o vinagre... 

Parque do Piqueri
Passando para parte boa, eram os tempos das descobertas, das mudanças de comportamento... Ali na ‘Enéas’ tive a primeira namorada a Elisabete, morena cor de jambo e belo sorriso. Os bons tempos das feiras de sábado e as noites nas calçadas. Ali também fiz bons amigos, Paulinho, Pedrinho, Ricardo, Rogério, Raul e o Keller. Fiquei um tempo na casa da tia, quando o pai chegou fomos morar na Rua Embiruçu (como dizia a Claudia, era uma rua que sobe e desce e o número nunca aparece), mas pouco ficava lá o meu mundinho era na Enéas...

Parque do Piqueri 1981

Um fato que marcou aquele ano foi o casamento da adorável e inesquecível prima Cosete. Ela casou no dia 21 de novembro, na Igreja de São Carlos no Tatuapé, 30 anos se passaram e eu nunca mais fui a um casamento tão maravilhoso quanto aquele, foi a primeira vez que comi caviar e calcei um tênis Topper. Naquela noite, um amigo antigo do meu pai, que eu só conheci de ouvir falar e tive a oportunidade de conhecer naquela noite, ele ficou muito feliz em me conhecer, foi a primeira e última vez que vi, me presenteou com uma bela nota de Cr$ 500 para que eu fosse visitá-lo, ele tinha bebido um tanto quanto além da conta, e não era para menos, fora servido ’Whisky Buchanan Special Reserve’. Na porta da igreja, estacionado um Del Rey azul 0 km que conduziria os noivos para lua de mel. Tempos depois a Cosete e o Osmar me proporcionaram uma bela imagem, foram eles que me levaram para ver o mar... “Foi assim, como ver o mar. Foi a primeira vez que eu vi o mar. Onda azul, todo azul do mar. Daria pra beber todo azul do mar. Foi quando mergulhei no azul do mar. “ Escrevo essa crônica na noite de 15 de novembro, aniversário dela, essa história simplesmente foi para relembrar a Cosete, nesse ano fez 20 anos que ela retornou ao Plano Maior. No dia em que ela partiu, escrevi na minha agenda “Está faltando uma peça no quebra cabeça, perde a graça, no quadro falta algo que não completa...” Acabou aquele ano e no início de 82 retornei para Rio Verde... 


   


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Se eu morrer antes de você - Fábio Trancolin





segunda-feira, 11 de novembro de 2013

No vai e vem da pá, o grão dourado, vira aqui e vira pra lá...


Fábio Trancolin

Rua Almiro de Moraes - Secando arroz 1976

No vai e vem da pá, vira aqui e vira pra lá... E nesse vai e vem o arroz ia secando... Serviço árduo que era realizado nos outonos dos anos 70 e que foi até 83/84 nas ruas de Rio Verde... Nem todas as ruas recebiam os grãos dourados, as mais utilizadas eram a João Belo e a Augusta Bastos, naqueles tempos o trânsito era “devagar” e a quantidade de carros era bem menor (e põe menor nisso), mas, outras ruas, também, recebiam os caminhões e seus chapas, nas proximidades do estádio Mozart Veloso do Carmo e mais algumas. 


Lembro-me do meu Tio Lázaro da Silva (Tio Zuza) no seu velho e bom Chevrolet 64, fazendo frete e transportando a safra, lá ia ele na roça no volante do “brutu” buscar a colheita. Então, entravam em cena os “chapas” que eram contratados para descarregar os caminhões e, aos poucos iam distribuídos os grãos na via, em pouco tempo, ela estava praticamente tomada, deixavam um corredor para que os carros pudessem passar... E lá ficavam expostos, e os trabalhadores de hora em hora iam revirando o arroz com seus rodos enormes.  E, suando em bicas, protetor solar, eles nem sabiam o que era isso. O cheiro invadia o ar, com o passar dos tempos, descobriram que aquele pó expelido pela palha faziam um mal danado, o meu pai sabe bem o que é isso, na minha casa, fez estrago na saúde dos meninos.  


O final da tarde vinha se aproximando e era a hora de começar a recolher, rodo que vai e rodo que vem, juntava aos montes no meio da rua, então, entravam em cena as latas de 18 litros, que mergulhavam na montanha dourada, e era despejada nas bocas abertas dos sacos de aniagem, em pouco tempo, ele já estava de pé na espera da agulha e do fitilho nas mãos hábeis do “costureiro”. Terminada a amarra, os sacos eram tombados, à espera da turma que amontoaria as pilhas que fariam a alegria da molecada. Eu fiz parte dessa molecada, como escalei essas pilhas. E, no outro dia, tudo de novo, espalhavam o “agulhinha”, e vai e vem, vira que vira... Depois da secagem, os caminhões levavam para o beneficiamento. 


Em algumas vezes, ocorriam problemas, e o pior que poderia acontecer para essa turma, era um drama chamado chuva, quando ela vinha de repente, causava estrago. E os grãos desciam na enxurrada e eram despejados no córrego Barrinha. Mas, na maioria das vezes, tudo corria dentro do previsto. E, depois de ser beneficiado a “Oryza Sativa” alimenta mais da metade da população mundial. É a terceira maior cultura cerealífera do mundo, o Brasil é o 9º maior produtor de arroz do mundo. Hoje, Rio Verde não produz mais arroz, perdeu espaço para o milho e, a rainha da vez, a soja. Tem aquele produtor que planta para o consumo. E depois de tanta labuta e de toda a via sacra, ele chegava na mesa das famílias para formar o casal perfeito, “Arroz e feijão...”.


                                              





segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Nos tempos da bela infância...


Fábio Trancolin





Lendo o livro de recordações que está guardado na memória, retorno mais uma vez nos tempos da bela infância... Tanto tempo passou, anos e anos vão se acumulando na contagem da ampulheta do tempo, a areia esvai-se... Bateu saudades do tempo da pequena cidade, e dos meus amigos. Eu voltei ao passado, e lembrei-me de vocês... E me vejo na quadra do Tiro de Guerra, ah! Como eu gostava do TG, lá eu passava os meus dias, não importava se era segunda ou sexta, domingo ou feriado... Lá estava eu com o meu kichute, camisa do Palmeiras e o calçãozinho verde, esse era o meu uniforme... Como eu era feliz, com os meus gols gritando “Toninho do Palmeiras”... Eu morava no casarão branco da Rua 12 de outubro, com um quintal enorme e suas jabuticabeiras e mangueiras... “Frutas em qualquer quintal, portas e janelas ficam sempre abertas...”. 

Rua 12 de outubro - Em frente ao Tiro de Guerra - 1978

Um pouco abaixo, ficava a casa do Junior, ponto de encontro da molecada, o portão estava sempre cheio, lá reuniam todos, o Eder, Ki-suco, Mário, Batata, Peru, Tigre, Buião, Rogério, Sergio, Paulinho Rola, Silvano (Careca), Duti, Cleomar, Afonso Gambá, Chininha, Murilo, Cleber, Carlinhos Queijinho e o Jairinho... Eram tantos, desculpe por não ter citados todos, mas com certeza estão guardados na memória da emoção. A cadeia velha (Hoje o Palácio da Intendência), palco de tantas brincadeiras, os morcegos que ao cair da tarde abandonavam os seus esconderijos e saiam em revoadas, sempre tinha alguém para derrubá-los com as camisas ao vento, eles saíam e os pardais voltavam em barulhenta algazarra... O tempo urge, mas nesse caso ele “ruge”, ele te chama para ver que o tempo voa... Vem andar e voa... Vem andar e voa...


As mudanças vêm, sempre vieram... Mas, naquele tempo, elas demoravam a chegar, ou não percebíamos... Sonho semeando o mundo real. E hoje na “descartabilidade” de tudo, até o ser humano é descartável... E é bom de vez em quando parar e analisarmos essas mudanças... Gosto de recordar... Da janela da cadeia velha vejo, ao fundo, o cerrado, vê o horizonte deitar o chão... Da janela o horizonte... A liberdade de uma estrada eu posso ver... O meu pensamento voa livre em sonhos... Aos poucos as mudanças começaram com algumas casas em frente ao campestre e se transformaram no Solar Campestre e, de repente, tantos bairros novos... E o Solar invadiu o nosso espaço (não foi com os raios de sol, foi com pedra e concreto), as desbarrancadas e seus mistérios na madrugada. O jatobá, o velho jatobá acabou não existe mais, no tempo das brincadeiras de ‘polícia e ladrão’ ele era o QG.

Cadeia Velha 

Descendo um pouco mais, tinha a quadra dos bancários, o Seu Dulcindo e a sua família tomavam conta do clube, os filhos com seus nomes diferentes para época, Frankcione, Dulcinéi e Ericsson, a filha, o nome era mais fácil, Eliana... E falando em Clube dos Bancários, lembro-me de um fato, os meninos fizeram um buraco na lateral dos vestiários, esse furo foi feito com um cabo de vassoura, só que esse plano foi por água abaixo, sacanagem, alguém viu e, na minha vez, eu não consegui ver nada, alguém me viu, gritou (tem alguém olhando)... Ouviu-se um grito, pega! Só viu moleque correndo... Só via pé de mamona quebrando...


Outro caso que vem na memória foi o desacato ao Sargento Barbosa, na frente da tropa eu o mandei ir pra aquele lugar... Foi de momento, coisa de menino, só que eu tive que correr, e correr muito, se ele me pegasse, eu estava perdido, sorte que ele não me alcançou... Também, eu e o Mário (filho do sargento) brigávamos duas vezes por dia e, naquele dia, ele mandou o filho me acertar uma pedrada, pois nos tapa, ele tinha levado uns tabefes, ele atendeu ao pedido do pai, e eu desembestei a distribuir palavrões... Como nós brigávamos... É bacalhau...! Mas no fundo nos adorávamos, o velho parceiro de bola... Depois eu fui até a casa dele e pedi desculpas...


O Júnior era o bom companheiro, na infância, na adolescência, sempre estivemos juntos, o meu velho e bom amigo... O meu grande amigo... Ele tinha uma bicicleta amarela que não tinha garupa, eu andava no guidom e imitava uma sirene (já imaginou a cena?). Sempre íamos para a Praça Mariano para aprontar, como aprontávamos. Lembro de uma vez, nós estávamos lá e alguém teve uma ideia... Vinha um cara subindo a rua e estava sozinho... O plano era o seguinte, eu deveria ficar sozinho e “xingar” o cidadão, enquanto os outros ficariam escondidos... Assim foi feito, ‘xinguei’ o individuo, ele me viu sozinho pequeno e magrinho, e veio todo nervoso e alterado, porém quando ele chegou perto, todos saíram de seus esconderijos, perguntando se ele iria bater no menino, a cena foi hilária... E eu parecendo um pombo com o peito estufado.  

Clube Campestre 1977 - Acervo Jadir Carvalho

Na sexta-feira, tinha seresta no clube campestre, e lá estávamos nós na ponte do córrego do sapo, com as nossas bombinhas e rojões, para azucrinar quem por lá passava em direção ao clube... A molecada não tinha ideia... Era bomba pra tudo que era lado... Também, tinham os nossos amigos da vila do matadouro, gente boa aquela... Atravessávamos a pinguela do córrego do sapo e chegávamos nas represas... Passávamos pelo córrego galinha, naquela época não existia a rodoviária, tudo aquilo era pasto e nosso espaço, não havia a Morada do sol, a Presidente Vargas terminava na curva para o cemitério, as gabirobas e os araticuns... O sonho de matar um anum preto (coisa de moleque...). As alfaces do Takecho, ele era um japonês que cultivava uma grande horta, e a molecada saía vendendo alface em grandes bacias... O tempo passou, passou, mas não dá para esquecer... Que saudades daqueles tempos... Nós não tínhamos dinheiro, mas para que dinheiro o que nós tínhamos dinheiro não comprava...