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segunda-feira, 30 de junho de 2014

E no puxa que puxa (O homem do quebra-queixo)


Fábio Trancolin

A lembrança dos sabores dos tempos de criança lembrou-me de mais um o doce o “quebra-queixo. “ O doce é típico do nordeste, conta a história que após um dia na lavoura de açúcar, os negros reuniam em senzalas e esse doce era fabricado pelas mucamas e é do tempo do Brasil escravo, ele é feito basicamente de coco e açúcar ele fica puxa-puxa e durante a mastigação o quebra-queixo apresenta-se bem duro e, por isso tem-se a sensação de que o queixo vai quebrar-se: daí o nome. Em quase toda a cidade, se encontra o vendedor e seu tabuleiro. 


E, em Rio Verde, não poderia ficar sem esse representante da culinária e tradição nordestina. Quando eu era garoto, via quando ele vinha vindo com o tabuleiro na cabeça e gritando “olha o quebra queixooooo...”. Na Avenida Presidente Vargas, ele subia e descia, na exposição agropecuária ele não faltava, o tabuleiro na cabeça e o suporte nas mãos, ele escolhia um lugar e ali ficava, a espátula, ele manejava e no papel colocava, e como diz o Júlio do cocoricóPuxa, puxa que puxa!”. 


E, hoje, depois de tanto tempo, ainda encontro com ele pelas ruas da cidade e com o tabuleiro na cabeça. E o homem do quebra-queixo se chama Lourenço, é filho da cidade Rio Tinto no Estado da Paraíba, e ainda ele esta andando pelas ruas de Rio Verde, lá se vão 36 anos. E como diz Dorival Caymmi, “no tabuleiro da baiana tem vatapá, caruru, mungunzá, tem umbu pra ioiô”. No tabuleiro do Lourenço tem lembrança, tem saudades, tem vontade de voltar no tempo e ser criança. E no puxa que puxa, puxa o cheiro do coco caramelizado que do pensamento não sai. O melado que nos dedos e nos dentes ficava grudado, na memória ele tem lugar guardado.  







segunda-feira, 23 de junho de 2014

Os córregos da minha infância


Fábio Trancolin

Nos domingos à tarde, as famílias em Rio Verde tinham um hábito do qual eu fiz parte várias vezes, ir tomar banho no córrego. Naqueles tempos, isso era comum, no córrego do Abóbora, Pirapitinga, Monte Alegre, Montividiu e, naquela época, ele já era temido, o Rio Verdinho... E foram vários os córregos da infância, conheci muitos, no ‘Ribeirão do Meio’ havia muitos pontos, ele nos oferecia várias possibilidades de lugares. Lá íamos nós na carroceria de caminhão para as beirada de rio... 


O mais procurado com certeza era o Ribeirão do Meio, na estrada que vai para Aparecida do Rio Doce, assim que passava a ponte do córrego, vira-se à esquerda e lá estava um belo lugar para se passar um dia. Muito e muitos domingos fomos lá. Quantas costelas de ripas foram assadas nos buracos que eram feitos de baixo das árvores que circundavam o lugar. Estive ali com a turma do colégio. Ficávamos chateados quando lá chegávamos e tinham outras pessoas, geralmente, a turma que levava as mulheres de má índole... Isso aconteceu poucas vezes. O lugar era mais família. 


Também, havia aqueles que a molecada procurava, não eram tão longe e íamos de bicicletas, ou mesmo na caminhada. Tínhamos o “córrego do trabalho” na BR-060 logo depois das Furnas, o da Laje um pouco mais à frente. O Córrego Galinha que naquela época não era na descida na rodoviária, pois ela não existia, dava uma boa caminhada para lá chegar. Ele era preservado e ali frequentávamos. Lá “pra bandas” do Matadouro, tinha o córrego do Darlot e pra lá também íamos, havia uns belos pés de goiabas. E várias eram as lagoas para aqueles lados. E, o lago do Clube Campestre, também, por nós era frequentado. 


Hoje, as porteiras e as cercas fecharam as possibilidades de avançar em seus limites, não se frequenta tantos as suas beiradas e margens, o cantar de um ribeirão na curva das pedras não se vê, e não se ouve mais, e não se atravessa mais as pinguelas...  Hoje, os ranchos e as ilhas privadas é que tem o atrativo. Só quem assou uma costela na margem de um rio, sabe do que falo. Sente o cheiro e se delicia com a lembrança do sabor, e esquenta o “esqueleto” num gole de “Chora Rita”, “Velho Barreiro”, “Jamel” e a boa de engenho. 


A cantoria na carroceria de caminhão não se ouve mais, os trovadores de outrora calaram e ficaram apenas na memória. Quantas vezes, na volta, a chuva nos pegava no meio do caminho e quando não tinha lona, deixava a água escorrer pelo corpo e ensopar até a alma, e a cachaça esquentava o frio que a chuva deixava. O cheiro do cerrado banhado pelas lágrimas da natureza deixava o aroma que da lembrança não sai.      



  


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Os artistas da política


Fábio Trancolin

A cantoria na carroceria de caminhão não se ouve mais, os trovadores de outrora calaram e ficaram apenas na memória. Quantas vezes, na volta, a chuva nos pegava no meio do caminho e quando não tinha lona, deixava a água escorrer pelo corpo e ensopar até a alma, e a cachaça esquentava o frio que a chuva deixava. O cheiro do cerrado banhado pelas lágrimas da natureza deixava o aroma que da lembrança não sai.      



Na campanha para prefeito de Rio Verde em 1976, (a primeira que eu lembro) meu pai era eleitor da ARENA, e seguiu o candidato do prefeito Eurico Veloso, que era o Byron Araújo, adversário do candidato do MDB Iron Jayme. Meu pai tinha um Jipe e nesse “possante” foram várias as fazendas que visitamos com os cartazes amarrado na frente do carro, naquele tempo além de Ouroana, Riverlânida e Lagoa do Bauzinho, Montividiu e Castelândia e Santo Antônio da Barra eram distritos de Rio Verde. Naqueles tempos, os comícios e as reuniões eram regados a churrascos e cervejas, e muita galinhada... E juntava gente. A campanha era acirrada, apenas dois partidos, ou você era a favor ou do contra. E como tinha briga e discussões. E o povo divertia e discutia, e outros tantos apostavam. Quando o pessoal das fazendas e dos distritos vinha para a cidade no dia da eleição ou mesmo nos comícios, a alimentação também tinha os lugares determinados, a turma do MDB era na Pensão Teixeira (Hoje Hotel Teixeira) e os da Arena ficavam na Presidente Vargas no prédio do Jesuíno Veloso, onde era a SEARV depois demoliram hoje é um estacionamento.


Material eram os cartazes e as faixas, não tinham adesivos, e o horário político não era essa produção de marqueteiros dos milhões. O negócio era no palanque e nas ruas no corpo a corpo. Os palanques geralmente eram a carroceria de caminhão, mas, às vezes, montavam uma plataforma. E tinha as histórias de campanha, as famosas gafes...  Conta que um candidato certa vez disse: “Subo nesse palanque de pau duro”... Contam que uma candidata à vereadora em um discurso “inflamado” proferiu uma frase que virou piada, “o adversário está distribuindo galinhas, se eleita for eu darei muito mais que uma galinha”. São as histórias de campanhas...

Os políticos eram verdadeiros artistas, e o povo gostava dessas cenas e visitas... Eram pegando as crianças no colo, abraçando povo, comendo e bebendo, eles não tinham “frescuras” e nem se preocupavam com higiene. Essa eu presencie, numa casinha simples lá no fundo da Vila Borges, um determinado politico, chegar próximo ao fogão a lenha, e sentir o cheiro do feijão, e se emocionar, pois aquilo lembrava a vozinha dele nos tempos da roça. Esse mesmo cidadão, contam que chegou numa casa e perguntou pelo pai do morador, ele respondeu, “papai morreu faz alguns anos”, o político abraçando o rapaz disse pondo a mão no peito, “ele morreu pra você, pois pra mim ele está vivo aqui dentro do meu coração...”.


Meu pai conta que na primeira eleição para presidente que ele votou, tinha 19 anos, e o voto foi no Jânio Quadros, naquele ano foi a primeira vez que a televisão foi associada à eleição. Assim, surgiu a primeira propaganda eleitoral na TV. O pai diz que o “cara” era uma figura, ele aparecia nos comícios, vestindo-se de maneira desleixada, com cabelos despenteados, barba por fazer, e com sanduíches de mortadela no bolso, um verdadeiro artista. E tinha como símbolo uma vassoura que dizia que varreria toda corrupção... “Varre, varre vassourinha. Varre, varre a bandalheira. O povo já está cansado de sofrer desta maneira. Jânio Quadros a esperança deste povo”. Foi eleito e renunciou...

1º voto em 1988 para prefeito - 1º voto em 1989 para presidente 

O pai teve que esperar por 29 anos para votar outra vez para presidente, eu estou indo para a sétima vez. Lembro-me do meu primeiro voto para presidente, lá na Escola Galileu Menon no Bairro do Artur Alvim (São Paulo), e do mesmo jeito que o pai eu também tinha 19 anos. A lista de candidatos era enorme, 22 nomes tinham à disposição, não deixaram o dono do baú se candidatar, Silvio Santos foi impedido. Eu votei no Roberto Freire. E como aconteceu na primeira eleição que o pai votou, na minha vez quem ganhou também não terminou o mandato, não renunciou, porém, o Congresso tirou. 


O tempo passou e muitas eleições eu vi e votei. Adoro política, mas perdi o respeito e a consideração por certos políticos. Como diz Rousseau “O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. E a cada palanque e coligação montada é que a frase de Galbraith faz sentido, “Nada é tão admirável em política quanto uma memória curta”. E para encerrar a mais famosa de todas, “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”’. Abraham Lincoln. 


segunda-feira, 9 de junho de 2014

As copas que eu vi


Fábio Trancolin

Estamos no clima contagiante da copa do mundo, porém ela não me contagia como nas copas anteriores.  Em 1974 o ano que a televisão chegou à minha casa, em consequência da copa do mundo que naquele ano foi realizada na Alemanha. Pouco me lembro dela eu tinha cinco anos, lembro-me do pai torcendo, não havia muito interesse para que eu me sentasse no sofá para ver jogos.


Quando veio a copa da Argentina em 1978, as coisas estavam diferentes, eu adorava futebol, colecionava figurinhas e amava jogar futebol, a quadra era o meu mundo e nada mais. Lembro-me dos jogos, da convocação, todos jogavam no Brasil, tinham representantes de 11 times, todos sabiam quem era quem, e eles eram lembrados pelo o que jogava, e não pelo empresário ou patrocinador. Assistimos ao jogo do Brasil contra a Polônia 3x1, Roberto Dinamite fez dois gols. Comemoramos, pois a Argentina tinha que fazer 4 gols no Peru para tirar o Brasil da final. À noite eu fui buscar marmita no hotel que ficava na Gumercindo Ferreira onde hoje está localizada a Clínica Modelo, a revolta era geral a Argentina encaçapava o Peru, 6x0, e o Brasil estava fora da final, iria disputar o 3º lugar. Decepção total, o jogo foi arranjado depois foi esclarecida a ‘marmelada’. Deram-nos o titulo de campeã moral, não perdeu, mas também não levou. 


Na copa de 82 o Telê montou um verdadeiro esquadrão de craques, Zico, Sócrates, Júnior, Falcão, Oscar e Eder e outros tantos. Apenas dois não jogavam no Brasil. Naquele ano eu também juntei figurinhas, e comecei a colecionar tabelas (tenho várias), a Seleção dava espetáculo, até chegar o ‘maldito’ 05 de julho e marcar a ‘tragédia do Sarriá’, a derrota para Itália por 3x2, quando apenas o empate nos servia, foi difícil digerir, e jamais esquecer. A Seleção que encantou o mundo, não ficou nem entre os quatro. 


Veio à copa de 86 estávamos confiantes, mais uma vez o comandante era Telê Santana, outra vez uma seleção de craques, a maioria eram de times do brasileirão. Mas, o destino mais uma vez não quis que o ‘Mestre’ Telê levasse aquele título, aquela derrota também doeu muito, fomos eliminados nos pênaltis pela França, esta saiu invicta. Craques como Sócrates, Zico e Falcão não seriam campeões.


Na copa de 90, tudo diferente a começar pelo técnico, antes tínhamos um admirador do futebol arte... Saiu Telê entrou Tião, que na convocação chamou os amigos, a maioria dos jogadores era dos quatro times ‘carioca’ e os que vieram da Europa tinham saído de times do Rio. Era uma seleção questionada, no decorrer da copa mostrou sua ineficiência, caiu nas oitavas eliminada pela Argentina. 


O meu interesse foi perdendo a graça, já não via futebol com a visão de torcedor garoto apaixonado por futebol, em 1994 quando o ‘Kiko, 'ops’, o Parreira convocou os selecionados e deixou o Evair de fora, para os palmeirenses foi uma ‘puta sacanagem’, ele optou pelo Viola. Na minha visão e no meu entendimento não foi uma seleção que encantou, mas como dizem, não encantou, entretanto, ganhou e depois de 24 anos fomos campeões. Jogou feio, retrancado bem estilo Parreira/Zagallo e o Baggio isolou a bola e o titulo veio. 


Em 98, tudo um tanto quanto ‘mafioso’, os ‘entendidos’ diziam que a copa seria do Ronaldo (nunca gostei dele), como a de 94 foi do Romário (não vejo assim, foi um jogador importante, mas não para receber esse crédito). O cidadão amarelou, apagou e o Brasil naufragou, tomou um chacoalho do ‘galo francês’... A grande patrocinadora blindou o ‘pupilo’ e ficou por isso mesmo. Em 2002 a família Scolari, trouxe o titulo, os bajuladores e ‘engraxados’ pelos patrocinadores dirão que foi a copa do ‘fofomeno’ ele foi muito importante, mas quem tinha São Marcos defendendo a meta, e na articulação o Maestro Rivaldo, no lado direito o ‘pulmão‘ Cafu, estava bem amparado. Não era uma bela seleção, a conquista foi mais pela união.


Em 2006 o ‘Kiko de novo’, 'ops', o Parreira, com o quadrado mágico, que não fez magia alguma, muita badalação para pouca exibição... E mais uma vez o ‘galo francês’ botou o canarinho pra correr... Na África em 2010, tínhamos o Dunga, Zangado, Dengoso e o Feliz, só faltou o Mestre para fazer algo, uma copa feia, só poderia acontecer o que aconteceu, foi eliminada não encantou, a única coisa boa da copa foi a Shakira.

E agora em casa, a copa superfaturada, a copa da corrupção, e pela primeira vez eu não tenho interesse, eu não aguento mais ouvir falar no rapaz (o da publicidade o garoto propaganda) e na namorada dele. Aquela vontade antiga de torcer não é como antes... E lá no fundo se perder que se dane.  Se ganhar estará no céu e quem esta no poder fará a festa, se perder eu não sei o que pode acontecer...  


segunda-feira, 2 de junho de 2014

A gente se acostuma, mas não devia.


Fábio Trancolin

Sou do tempo em que crianças podiam andar pelas ruas com tranquilidade e segurança. Não se ouvia dizer que fulano foi assaltado ou cicrano assassinado. Droga era droga e te assustava, e ficávamos bem longe dela, e dos portões, ela não passava. Lembro que estávamos andando como sempre pelos lados dos cerrados, no final da cidade, ali, onde hoje é o Solar Campestre, quando um senhor veio e nos avisou, “cuidado não vá por aí, que tem uns maconheiros lá por trás do lago do clube”, corremos, nossa, maconheiro era um cara “perigoso”. Hoje é tão natural, muitas famílias têm um caso em casa, banalizou. 


Ninguém invadia os estabelecimentos alheios para tirar o que não lhe pertencia. Respeitava, todos se conheciam. Tudo bem, tínhamos lá as exceções. Naquela época tinham os chamados, “Neguinhos da lavagem”. Era uma família difícil, tinham dois que estavam sempre juntos, eles eram mais, porém eu me recordo desses dois, que tínhamos receio da aproximação. Eram chamados, assim, pois saíam recolhendo os restos de comidas para alimentar os porcos, e eles ficaram assim conhecidos, uma forma pejorativa, mas, naquela época, não existia a forma do politicamente correto. 


Eles moravam atrás onde está o Hotel GELPS, próxima à Praça 13 de maio, ali os quintais iam até a beira do córrego Barrinha. Era uma região um tanto quanto esquecida. Um ponto em que eles estavam sempre, era na Praça 05 de agosto. Naquela época, a Praça era um ponto de encontro de engraxates e eles também exerciam essa função. Presenciei uma vez algo que para fazer, tem que ser muito sem noção, ou não ter a menor consideração pelo próximo. Na descida da Nizo Jayme de Gusmão, eles encheram um pneu de trator com água e, simplesmente soltaram rua abaixo. O pneu bateu na ponte, e não atropelou ninguém... 


Onde, hoje é chamado de CPP (Casa de Prisão Provisória), era somente a Delegacia, tudo se resolvia ali referente à lei, nos fundo tinham várias mangueiras, era um terreno enorme, éramos frequentadores assíduos desses quintais frutíferos. No xadrez, tinha quatro celas, conhecíamos, tínhamos acesso por sermos amigos dos policias. Lembro que em uma, os presos ficavam trancados, nas outras três, uma era depósito e as outras abertas. A turma da ‘lavagem’ estava sempre ali, eram figurinhas carimbadas. Chegavam lá, tomavam um corretivo, passavam um tempinho ali e eram liberados, era menor, porém o “ECA” não existia. 


Sempre evitava encontrá-los, mas como a cidade era pequena, sempre nos esbarrávamos. Não mexia com eles. Lembro de uma vez que dei de cara com os dois que estavam sentados na porta da CAIXEGO, ela ficava na esquina da Praça 5 de Agosto, hoje é uma loja country. Menino costumava colocar dinheiro no short, eles me abordaram e levantaram a minha camisa, e perguntaram “cadê o dinheiro?” Não tenho, respondi assustado, pensei, é, agora que tomo uns tapas, mas eles disseram, vai... Mas, que depressa, fui... 

Conta a história, que o pai os incentivava a cometer os deslizes. Uma vez, um dos mais velhos atirou em alguém, e essa pessoa não morreu, ele foi internado. O pai dos meninos foi lá para terminar o serviço. Ao chegar lá deu de cara com o irmão da vítima que estava no hospital, o chefe da turma não teve tempo de atirar, foi alvejado e morreu. Contam que no velório dele, alguns comerciantes protegidos pela polícia foram até lá e encontraram alguns pertences que haviam sido roubados. Dizem que um foi contando para os outros e muitos foram até lá para rever os produtos. 


E, assim começou o fim da família, quase todos tiveram o mesmo fim trágico do pai. Tirando essa ‘Família Buscapé’, do resto, era tudo muito tranquilo, a paz reinava, e ninguém invadia os estabelecimentos de capacetes. Não quero dizer que não havia problemas, existiam, porém, era uma cidade em que a paz e a tranquilidade reinavam. As praças e portas de colégio eram um lugar em que podíamos confiar. As criaturas da noite não te assustavam tanto, eles povoavam mais o imaginário. Hoje, elas andam nas espreitas, observando... Eu tenho andado pela cidade e testemunhado as suas mudanças, sua destruição, eu, também, observo... E vamos acostumando... “Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia...”.