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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

A Rural do Waldomiro


Fábio Trancolin

                                                                                                      Foto ilustrativa
Sempre que recordo da minha infância me lembro das aventuras que marcaram e não foram poucas, hoje, lembrei-me da velha rural do Waldomiro. Era uma rural branca e azul, o assoalho dela foi consumido pela ferrugem e isso originou alguns buracos que eram verdadeiras crateras. E nos finais de semana que geralmente eram prolongados, lá, íamos nós para o cerrado. Às vezes, à procura de pequi, cajuzinhos, madeiras e, na maioria das vezes, era só por ir mesmo, sempre tinha uma fazenda ou beira de rio, os tempos das porteiras abertas e a receptividade do pessoal da roça em te ver, eles ficavam felizes de verdade. 

 Tia Lena e o Marquinhos - No teto da Rural Fábio Trancolin

Falando da rural, ela só tinha os bancos da frente, atrás era um vão e o assoalho era forrado com compensado que não ajudava, pois a poeira invadia o ambiente. Para sentar, eram colocados tamboretes, caixas e pedaços de madeira. Lembro que uma vez fomos no veiculo ou melhor na “condução” para o chapadão (pois ela ia e voltava), a fazenda era aquela ‘Muito além do horizonte da terra vermelha do sertão’ vinte e duas léguas rumo à Serra do Caiapó, ela sempre foi e voltou, nunca deixou o condutor na mão. Ela, também, chegou a conhecer a beleza da cachoeira do Montividiu, naqueles tempos, era de livre acesso, e todos tinham o direito de conhecer umas das belezas do cerrado, hoje os cadeados impendem a presença.


O caminho mais utilizado por ela era a GO-174, rumo ao Ribeirão do Meio e córrego das Abóboras. O pai e o Waldomiro sempre andavam por aquelas bandas a procura das toras de sucupira, elas eram muito aproveitadas para fazer as colunas das mesas de jantar e outras peças da bela arte da marcenaria. Tanto um quanto o outro eram exímios artesãos na arte de trabalhar com a madeira. E, também, naquela região, tinha a fazenda do amigo, o Seu Rosalvo. Todos os parentes de São Paulo que veio nos visitar tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Era um ‘boa praça’ contador de ‘causo’ (cada caso, um pior do que o outro... Aquilo era mentira mesmo, uma pior do que a outra, geralmente de assombração), mas, aquilo era pura diversão. 

A cachoeira do Montividiu

E, numa dessas idas para aqueles lados, na volta aconteceu algo inusitado. O pai todas as vezes que voltava, subia no capô da velha rural e viam no meio da estrada poeirenta. E, dessa vez, lá estava ele na frente da “xebrosa” parecendo aquele cisne que fica de enfeite em alguns caminhões. Porém, nesse dia, o Waldomiro foi acender um cigarro e olhou para trás para pegar o fósforo com a Cleuzinha, perdeu o controle da direção e marcou o rumo das desbarrancadas... Caramba, no momento o “trem” foi feio, depois virou farra. O pai ficou uma “arara”, chamando o “Wardo” de irresponsável e sem noção, dentro da rural foi um “furdunço”, tamborete virando, moleque caindo, choro de alguns, gritos de outros, mas no final tudo voltou à ordem, apenas arranhões e escoriações leves, uma delas foi o primo que veio de São Paulo, o Marquinhos, ele era o menor que estava no meio, e acabou sendo atingido pelo pé do banco e isso deixou a testa inchada. 

                                                                                                      Rural ilustrativa

A rural deixou saudades. Todas as vezes, no retorno dos passeios, voltamos com o cabelo duro, e só o branco do olho o resto era só pó, “comemos” muita poeira sertão a fora. Mas, as lembranças nos trazem grandes recordações de um tempo bom e de pessoas melhores ainda. 


segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

As casas por onde passei


Fábio Trancolin


Renato Russo disse, “Já morei em tanta casa, que nem me lembro mais... Eu moro com meus pais”... Eu morei em tantas casas e sabe que eu me lembro de todas, eu casei e moro com os meus pais. Sentado na porta de casa na sombra de uma árvore eu e o pai conversávamos e resolvi contar as casas que eu me lembrava em que moramos, e foram muitas, trinta e três casas, isso sem contar as que eu não lembro, mas me recordo de cada uma, suas portas e janelas, quintais e fachadas... Mistérios e fantasmas. 

A primeira ficava na Rua Geraldo Jaime, a casa da Dona Maria Baiana, próxima ao Colégio do Sol, nessa época, eram apenas dois filhos eu e o Jairinho. Lembro-me do circo passar na porta e o palhaço da perna de pau que nós morríamos de medo, a mãe pra nos colocar para dentro, dizia que ele nos levaria pra lavar as longas calças dele (maldade). Depois, mudamos para a Avenida Presidente Vargas, ali nasceu o Marcello, essa casa ficava onde hoje está a Sirlene Imóveis, tinha um pé de laranja imenso no quintal, tínhamos um coelho branco, logo abaixo, tinha uma vozinha que benzia, era uma casa cheia de árvores, a mãe sempre nos levava lá. Depois, fomos morar lá na Renovação em frente à caixa d’água, na porta era rota de boiada (Sul goiana), lembro que certa vez houve um estouro, e elas entraram no quintal da nossa casa, e assistíamos tudo da janela, pode imaginar o desespero da mãe... Nessa época, o pai trabalhava na marcenaria do Antônio Menezes, e vinha de bicicleta subindo a BR.

A próxima da lista, foi a da Rua Viela Jataí, é a casa da esquina com a Costa Gomes, onde ficava o lava-Jato, ao lado tinha o café Rio Verde e seu aroma delicioso nos finais de tarde.  Dali, mudamos para o ginásio, passamos um tempinho ali onde era a marcenaria, hoje está o Colégio Oscar Ribeiro. Nessa época, a quadra no Martins Borges não tinha cobertura e era imenso o pátio, as mamonas e os torrões vermelhos de terra... Mudamos então para o Afonso Ferreira, que nem asfalto tinha, lembro-me de colocarem as manilhas na Rua Augusta Bastos e era uma alegria correr por entre elas, e as mães com suas histórias fantasiosas sobre algum menino que foi enterrado quando estava brincando (isso só pra não deixar a molecada entrar nos buracos e valas...).

Quando fomos morar na casa azul da Rua Almiro de Moraes, esquina com a Presidente Vargas, a rádio difusora ficava em frente. Período ruim ali, época das doenças, passamos uns maus pedaços, os quatro filhos internados, muitas injeções... E a perda de um dos membros da família, o irmão caçula o Marcos retornou ao Plano Espiritual nessa época. E o meu aniversário de cinco anos, eu ganhei um belo bolo, porém estava doente, e escutei o desfile de dentro de casa, não pude ver.    
 
Depois, voltamos a morar na mesma casa da Afonso Ferreira, a casa da Dona Dulina, tinha um pé de jabuticaba na porta de casa, nesse tempo, foi o ano em que fui para a escola e o asfalto chegou à porta de casa. Nessa casa foi o natal de 74 em que ganhei o meu autorama o FITTI-SHOW (relatado na crônica da Casa das louças). Em 77, mudamos para a casa azul da Rua Avelino Faria esquina com a Augusta Bastos, aquela em que o caminhão desgovernado passou por cima. Sendo assim, tivemos que mudar, e dessa vez, a casa foi ao lado do Grupo Escolar Alfredo Nasser na Rua Coronel Vaiano, pouco tempo depois, fomos para o casarão da Rua 12 de outubro, o belo quintal com os pés de jabuticabas, pés de mangas, goiabas. Foi uma das melhores épocas da bela infância, os amigos, a quadra do Tiro de Guerra, quando eu fui morar ali, não tinha asfalto, tudo era cascalho. Mudamos para a casa da Praça Ricardo Campos atrás da cadeia velha, era um quintal de quatro casas, moramos numa e, depois, passamos para a dos fundos, casa essa que num temporal as telhas se foram com o vento. (pensa num “trem” feio, o vento assobiando e as telhas voando, e todos debaixo da mesa). 

Outra mudança e, dessa vez, para a Rua Augusta Bastos, nós tínhamos um pássaro preto que era criado solto e era o xodó do pai, no primeiro dia na casa, um gato pegou ele, ruim... Muito ruim... A próxima mudança não foi só de casa, foi de cidade, de estado, fomos para São Paulo. Por certo tempo, ficamos na casa da tia Neide na Rua Enéas de Barros, lugar bom... Primeira namorada e de boas lembranças. Ai veio a casa da Rua Embiruçu e o retorno para o Planalto Central e, dessa vez, ficamos em outra casa de parente, a da Tia Dina na Augusta Bastos, moramos ali na copa do mundo de 82, ali eu presencie a tragédia do Sarriá, mudamos outra vez só de casa a rua permaneceu a mesma.  Dessa casa começou um período ruim, fui morar numa casa que perseguiu os meus sonhos por muito tempo, não gostava dela. Era na Rua Goiânia, era uma casa de 12 mt², apenas um cômodo, não tinha água encanada, foram 32 meses... Mas, isso ajuda o crescimento espiritual. Hoje, vejo com outros olhos. Depois a Rua 11, Dario Alves de Paiva, Laudemiro Bueno e a casa da Rua 10, essa teve uma mudança inusitada, mudamos de carroça, eu o primo João que me ajudou e, numa determinada viagem a carroça soltou-se do cavalo e quase que os três foram ao chão, não caíamos, porém o cavalo seguiu sozinho...

Outra mudança interestadual, voltamos para a capital paulista, outra estadia na casa da Tia Neide na ‘Enéas’, e depois a Rua Corin, na Vila Ré. Então veio um período maravilhoso na Rua Tobiaras na Vila Esperança (E foi um tempo de esperança e mudança). O sobrado da Aquiraz, de grandes alegrias (Quando o Palmeiras goleou o Corinthians por 4x0 na final do Paulista de 93, morávamos ali, rua de corintianos, pensa numa alegria). Foram cinco anos ali, até o dia que atravessamos o pontilhão do metrô e fomos morar no sobrado da Rua São Donato, o lugar era bom, os vizinhos não, mas ali conheci a moreninha (Silvia Marly) da locadora Paraíso Azul e, em novembro de 98, ali nasceu o Victor Hugo.


Em março de 99, o retorno para centro do país, voltamos para Goiás (como diz a música “quando eu quero mais eu vou pra Goiás”). Numa viagem de 36 horas, com dois cachorros dentro de uma cabine apertada... Mas, cheguei à terra do pequi, da pamonha e outras deliciosas iguarias e dos bons amigos da bela infância. A casa azul da Rua Luis de Bastos, depois a Rua 03 no Jardim América, uma casa que eu adorava a beleza da árvore sete copas que ficava no quintal e o belo entardecer no fim da rua. Mudei, pois a casa foi vendida, e fui obrigado a deixar a casa. Mudei para a Rua Ataliba Ribeiro e, uma semana depois da mudança, nasceu a “Flor branca” esse o significado para Yasmin, a nossa princesinha. Outra mudança até então a última, e aqui estou, nessa, dia 14 de dezembro completou 10 anos, a casa que por mais tempo fiquei... “Já morei em tanta casa, que nem me lembro de mais... (Porém eu lembro e como me lembro de cada uma...)... Eu moro com meus pais”, e posso afirmar que é bom demais... 


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Então é Natal


Fábio Trancolin



“Então é natal, e o que você fez? E o ano termina, e nasce outra vez”. Essa frase será muito ouvida, nos altos falantes de supermercados e shoppings, que estarão abarrotados de pessoas na busca dos presentes e compras para as festividades que se aproximam. Comerciantes e vendedores também aguardam ansiosos o fechamento do mês mais esperado do ano, para contabilizar as vendas e fazer um balanço do ano.

Alguns só pensam em tirar as merecidas férias, outros não veem à hora de “bebemorar” o natal. Para os mais céticos, o final de dezembro representa apenas mais uma simples mudança no calendário. Seja para o gozo de um breve descanso, para o recolhimento espiritual ou moral, o período natalino é por tradição sinal de alegria, movimento, cor e sentimento. Um sentimento de bondade e solidariedade acaba envolvendo a todos e o clima típico desta época do ano, às vezes consegue modificar até algumas ‘almas’ endurecidas, que na esperança de abater as dividas com Deus saem de abraços e apertos de mãos e distribuição de brindes e cestas, isso é bom... As distribuições de presentes e alimentos movimentam e emocionam muitos os esquecidos que durante o ano não são visto ou percebidos, mas no natal sem fome serão alimentados e agasalhados...

Espero e esperamos que o tempo de paz e amor do natal possa seguir depois na expectativa da passagem de ano novo, e que o Espírito Natalino que se propagou pelo mês de dezembro não termine na queima de fogos. Que bom seria que essa bondade se perpetuasse pelo resto do ano. E que na noite da Estrela Guia ela direcionasse os homens no caminho reto, porém, muitas vezes, antes que o janeiro termine já são descartadas ou esquecidas às promessas feitas num momento de emoção. “O show já terminou, vamos voltar à realidade, não precisamos mais usar aquela maquiagem, que escondeu de nós... Uma verdade que insistimos em não ver...” Mas a esperança é renovada e as expectativas das mudanças alimentam a alma mais uma vez, dando-nos força para percorrer mais um ciclo da caminhada da vida. O ano que está prestes a se findar deixará marcas e lembranças em cada um de nós, umas piores, algumas tão só de normalidades, outras, com certeza, de excelente memória. 


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O caminhão desgovernado


Fábio Trancolin


Já ouviu aquela expressão ‘parece que um caminhão passou por cima?’ Não necessariamente por cima de alguém (quase passou), mas por cima de algo... Então, no início do ano de 77, mais precisamente em fevereiro, isso aconteceu na minha casa. Eu morava na esquina das Ruas Augusta Bastos com Avelino Faria quando num final de tarde isso aconteceu, um caminhão invadiu a nossa casa. Pela proporção do acidente era para ter sido uma tragédia, graças a Deus foi só prejuízo material.


Voltando dois dias antes do acidente, era o mês de fevereiro, o Senhor Antônio morreu, fomos para o velório e passamos a noite. Na manhã seguinte, ele foi sepultado, no retorno para casa, o Senhor Manoel, irmão do Seu Antônio não aguentou o baque de perder o irmão, e também fez a passagem para o Plano Espiritual. Mais um velório, outra noite em claro. Voltamos para casa, duas noites em claro, todos estavam acabados. Minha mãe perguntou para o pai se ele iria dormir, ele disse que não, pois tinha serviço na marcenaria, o meu Tio Claudio que nessa época morava lá em casa, também resolveu que iria trabalhar, nesse caso já que vão todos, a mãe pediu para que o pai nos levasse para a escola, nesse ano, eu e o Jairinho estudávamos no Percival Xavier (Escola que funcionava no Colégio Martins Borges), e o Marcello estudava no “Passinhos dos Saber”, que também utilizava sala de aula do Martins Borges, era o primeiro ano da escola da professora Rita de Cássia. Então fomos todos. A mãe resolveu que iria lavar roupa.

O dia decorria tranquilo, mais um daqueles dias quente de verão. No meio da tarde, uma amiga, a Tereza, apareceu lá em casa, e enquanto a mãe recolhia a roupa, ela ia dobrando e colocando em cima da cama. O nosso quarto era o da esquina, ao lado estava o da mãe. Uma Camionete desce a Avelino, e ignorou a preferencial, (naquela época a Augusta descia e subia), e colidiu violentamente com o Mercedes 1113 que subia, o “brutu”’ perdeu a barra da direção e marcou o rumo da casa azul. O cômodo da esquina, simplesmente, desapareceu, no próximo, ele encontrou com o guarda-roupa de madeira maciça que serviu de instrumento para fazer mais estrago ainda. A Tereza foi espremida e salva pela porta. No quintal, ao ver o guarda-roupa aparecendo sendo empurrado pelo caminhão e derrubando a parede e o muro, a mãe desmaiou.

O pai nos trouxe e ao virar na Presidente Vargas, dava pra ver o tumulto, e apenas um pedaço da carroceria do caminhão para fora. Os policiais tinham feito cordão de isolamento para proteger a cena do acidente e, também, os pertences, pois se não bastasse o acidente, alguém ainda carregou algumas coisas antes que a polícia chegasse o famoso saque de tragédia... Entramos e vimos o estrago, brinquedos, roupas e livros no meio de tijolos e muita poeira... Os vizinhos comentavam que o motorista do caminhão desceu transtornado e armado, acreditando que tinha matado a família toda, ele gritava que tinha matado todos, e iria matar o motorista do outro veículo. Foi contido, pois ninguém havia morrido, o condutor da camionete fraturou algumas costelas. A perícia foi feita, a dona da casa recebeu indenização pelo estrago, nós não, não recebemos nada e tivemos que mudar da residência. Os móveis da sala e os utensílios da cozinha não sofrearam danos, o guarda-roupa que foi atingido só quebrou o pé, no quarto tinha um berço que estava na família já algum tempo, serviu para os quatro irmãos, e fazia parte da família, era um berço de imbuia, que tinha a marca dos meus primeiros dentes cravados nele, ele foi o primeiro a ser abalroado e ficou totalmente destruído, o jipe verde do Cello, aquele que o pai tinha comprado na Casa das Louças foi literalmente esmagado... Essa história rendeu muito, duas noites de velório e um acidente de grande proporção, e a família sã e salva. Somos e sempre fomos muito protegidos pelos amigos do Plano Maior.




segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ainda se ouve o tique-taque das máquinas de escrever


Fábio Trancolin



Fiz parte da geração em que aprender datilografia era quase que obrigatório, arranjar emprego em escritórios nos anos 80, a pergunta básica era “tem curso de datilografia?”. Era fundamental para obter empregos e, de grande valia, para ser aprovado em concursos públicos. Eu fiz o meu em 1986, na Escola de Datilografia Goiás, que ficava na Rua Major Oscar Campos esquina com a Itagiba Gonzaga Jaime, o proprietário era o Nilton Proto. De longe se ouvia o tique-taque estalado das máquinas de escrever, as barulhentas Remington e Olivetti, hoje pouco se usa, estão praticamente encostadas e abandonadas, perderam o espaço para informatização.

Imagens ilustrativas
Durante cinco meses de segunda a sexta, eu frequentei o curso, eu fazia na parte da manhã, durante uma hora eu era aprendiz, chegava um pouco antes do horário para ficar de olho nas melhores máquinas, e cada um tinha a tua “pastinha” arquivada no armário, ali eram guardados os exercícios que aos poucos iam sendo superados depois de muitos serem praticados e, ao fim de cada exercício, tínhamos aprovação cronometrada pela professora, a minha foi a Maria Aparecida, pedíamos “marca ai”. Se aprovado, poderia seguir para o próximo, se não passasse pelo crivo, tinha que treinar mais para depois solicitar outra avaliação. Naqueles tempos, tinham escolas que tapavam as teclas com esparadrapo, e as monitoras rigorosas exigiam, “não olhem para o teclado, olhem para o manual”... Na escola que fiz, o regime era mais brando. As escolas de datilografia deixaram de existir já faz um bom tempo, muitos “cata milho” se profissionalizaram. Hoje o teclado do computador facilita muito.  

Imagens ilustrativas
Meu horário era de manhã, mas aparecia por lá à tarde, gostava do lugar e das pessoas que lá frequentavam. Entre elas, tinha a Júnia, uma loirinha encantadora. Muitas vezes, eu marquei o tempo para que ela pudesse solicitar a cronometragem da avaliação, a Cida me permitia isso, tinha o respaldo da monitora. E eu quase todos os dias lá estava, no horário da loirinha de rostinho angelical. E, na parte da tarde, a escola era invadida pelo saboroso e delicioso aroma da Kitanda Caseira que ficava em frente, os casadinhos e biscoitinhos e outras tantas delícias que ali eram produzidos pela família do Eduardo de Castro, o cheiro nos convidavam e quase todos os dias tinha lanchinho. Às vezes, eu acompanhava a Júnia até a casa dela, só acompanhava... Nos bons tempos do bate-papo, face a face, nada de online, as tentativas eram ao vivo. O curso acabou, me formei e fui diplomado, ainda guardo como recordação. O papel branco amarelado com detalhes em verde e grafado pelas mãos hábeis do bom amigo artista das letras Huprecio Albano de Matos, e esse pequeno papel está guardado no fundo de uma gaveta, mas guardado com carinho e cheio de boas lembranças. Mas, ainda se ouve tique-taque estalado das máquinas de escrever na memória...





sábado, 30 de novembro de 2013

Na época das tampinhas




Fábio Trancolin


Hoje lembrei a época do álbum de figurinhas que não completava de forma alguma, cada página tinha um eletrodoméstico ou utensílio, se completado você ganharia. TV, bicicleta, gravador, fogão, geladeira, faqueiro e jogo de panelas. Nunca vi alguém ganhar, ficávamos doidos comprando saquinhos e mais saquinhos, e nada de sair a desejada, a página praticamente completa e faltava aquela. Mas era legal, no tempo da inocência, essa era a malandragem e a maneira de enganar a boa fé da meninada, que corria atrás do carro com ferro velho para trocar pelos álbuns. A época das tampinhas que sempre tinha uma novidade. O guaraná Mineiro trouxe uma coleção de aviões de guerra, lembro que teve uma festa no Colégio Martins Borges, e venderam só o “Mineirinho”, e todas as tampinhas foram jogadas nos fundos do colégio, eu fiz a festa. Mas, com o tempo, elas sumiram. Na Copa do Mundo de 1978, lançaram a coleção com os jogadores, no tempo em que todos jogavam no Brasil, e juntávamos aquele monte de tampinhas... 



Teve uma coleção da Coca-Cola, era chamada Bingola, pegávamos as cartelas no distribuidor, e íamos colando as tampinhas até completar, e depois você ia até o depósito e trocava pelas miniaturas dos personagens Disney. Lembro que eu e o meu irmão íamos até o armazém que ficava ao lado de casa, onde o pai tinha conta e comprávamos o refrigerante (todos os dias, até que o proprietário avisou para o pai e ele pediu pra suspender a entrega) e pedíamos para anotar, era frustrante quando abria a tampinha e era repetida. Mas sempre tinha alguém para trocar, eu tinha muitos amigos que também colecionavam.


Outra coleção legal que teve naquela época foi o Futebolcards, ela trazia a foto do jogador e no verso o currículo dele. Cada envelope trazia três figurinhas e um chiclete (muito ruim por sinal), era maravilhoso ir até o armazém e abrir cada envelope. No aniversário do Mário, ele ganhou uma caixa fechada, não me lembro, mais era em torno de cinquenta envelopinhos que vinham na caixa. Depois ele comentou “Pô, cara, vieram muitas repetidas, não foi vantagem” o certo era comprar em vários lugares diferentes. Eu comprava na maioria das vezes, no mercado velho, no armazém do João Quito. Tinha aqueles cards que era muito difícil de encontrar, tinha o cartão de controle e por ali você sabia quem eram os jogadores daquele time que estava faltando. Eu estava no Bairro Popular com o pai, estávamos numa venda, e vi no balcão que tinha para vender os envelopes, pedi e ele me deu uns trocados, comprei só um envelope, e quando abri para surpresa lá estava o Zico (Não gostava e não gosto do Flamengo), mas o Artur Antunes Coimbra era diferente, fiquei muito feliz, eu era um dos poucos que tinha. Certo dia, eu fiquei puto da vida com o meu irmão, certa vez, ele trocou o Kleber do Cruzeiro por um litro de jabuticaba... As tampinhas não têm mais, se perderam com o tempo, os cards estão guardados. As figurinhas de chiclete só ficaram as da Fórmula 1, e um álbum que completei e sinto muito tê-lo perdido foi o da Copa do Mundo de 82. Guardar na memória é bom, mas ter no fundo da gaveta é melhor ainda.   

Coleção chiclete Ploc 1982




segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O importante é a boa música


Fábio Trancolin 
1989 em São Paulo aos 21 anos
Sempre fui apaixonado por música, amo música. Difícil ficar sem, não trabalho sem os fones nos ouvidos. E por falar em boa música e como eu adoro viajar no tempo, volto aos anos 80, em minha opinião, a melhor época da música, seja internacional ou nacional. Década das melhores bandas de rock nacional, foi uma safra e tanto aqueles anos dourados musicalmente falando, Legião Urbana, Capital Inicial, Roupa Nova, Blitz, Barão Vermelho, Biquíni Cavadão, Titãs, RPM, Kid Abelha e vários outros, algumas das bandas internacionais, Duran Duran, Culture Club, U2, Queen, Journey, Genesis, Chicago, Cindy Lauper, Rod Stewart, Toto, The Police, Madonna e o A-ha, a lista é imensa...


Na minha casa, não tinha toca-discos, só radio AM, a Frequência Modulado ainda não tinha chegado. As boas músicas vinham através da TV e, à noite, no rádio, conseguíamos sintonizar a frequência de Rio-São Paulo. Quando a FM chegou a Rio Verde na metade da década de 80 eu só tinha um radinho Motorádio AM, e ouvia a FM na rua, casa de amigos, porta de colégio ou quando o vizinho aumentava o volume, só assim pra ouvir “a voz de quem se ama” esse era o slogan da eterna amiga Arlen Matos, hoje estou sintonizado a ela online todos os dias na Rádio Executiva, Goiânia e, quando termina o horário dela, a frequência muda para a Alpha FM - São Paulo. 



Na década de 80, todos os dias às tarde na TV Bandeirante, passava um programa que eu adorava, era o Super Special, falava tudo sobre música. Entre vários clips que tive oportunidade de ver, uma banda chamou-me a atenção, era o A-ha, que inovou com vídeos clips, os das músicas Hunting high and low, e Take on me, marcaram época, me tornei fã da banda norueguesa lançada em 1984. Quando fui morar em São Paulo, tive a oportunidade de adquirir o meu primeiro aparelho de som 3em1, um Sharp que eu comprei no Largo oito de setembro na Penha, nas Lojas Buri. Era uma felicidade entrar no Mappin ou nas lojas das Avenidas São João e Ipiranga, ali folheava os LPs, vários comprei. É claro que os do A-ha foram os primeiros, eles já tinham lançado dois; o ‘Hunting and low’ e o ‘Scoundreal Days’. E fui juntando, diversificando, sempre fui muito eclético em questão de música, de Raul Seixas a Beatles, Elvis a Oswaldo Montenegro, Chrystian e Ralf a Cazuza... E as maravilhosas baladas do Air Supply... O importante é a boa música. 



Morando em São Paulo, tive a oportunidade de ver vários shows e me arrependi de não ter visto vários outros... Nas sextas-feiras no vão do Viaduto do Chá, tinha o projeto das 18:00 horas, ali tive a oportunidade de ver gratuitamente, Sá & Guarabira, Fagner, Roupa Nova, Biquíni Cavadão, Capital Inicial, Pepeu & Moraes Moreira, Elba Ramalho, Zezé Di Camargo & Luciano, Belchior, Fábio Junior, Banda Cheiro de Amor, RPM, e Lulu Santos... No Olímpia eu fui ver o Rei Roberto Carlos... Na noite de domingo de 17 de março de 1989, no Parque Antártica o show que entrou para história, o  A-ha, no estádio do meu Alviverde imponente, eu tive a oportunidade de presenciar os noruegueses Morten, Paul e Magne darem um verdadeiro espetáculo. 


O tempo passou, a música sofreu uma grande mudança, e muita coisa ruim comercialmente falando apareceu, alguns insistem em colocar no som automotivo uma coisa chamada funk e uma batida insuportável que afeta os ouvidos de quem gosta de música. Por isso, a viagem no tempo da boa música e nos ouvidos os ‘foninhos’ sintoniza a rádio leve da cidade na voz de veludo, é muito melhor com você.   










segunda-feira, 18 de novembro de 2013

As mudanças são necessárias, muitas vezes inevitáveis


Fábio Trancolin


Na viagem do tempo, volto a um ano em que houve muitas mudanças, e alteraram roteiros, comportamentos e pensamentos, foram mudanças que atravessaram rios e fronteiras.  As mudanças são necessárias, muitas vezes inevitáveis, as mudanças são tão inevitáveis quanto as lembranças e, por isso, retorno ao ano de 1981. Depois de tantos anos morando na parte baixa da cidade, lugar que me trouxe muitas alegrias e boas lembranças. No início daquele ano, mudamos para a Rua Augusta Bastos a casa ficava próxima ao Colégio do Sol (ainda vou contar a história desse colégio). Pra falar a verdade, senti muito essa mudança, saí de perto dos bons amigos, não que a cidade fosse tão grande e as distâncias intransponíveis, não, não era isso, mas fiquei longe do ponto que me deixava muito feliz.


No ano anterior, eu tinha abandonado a escola, algo que me deixou muito triste, uma frase pode destruir alguém, e alguém me disse uma frase que estragou o meu ano letivo (desigualdade social). E, em 81, fui matriculado no colégio que deveria ter ido um ano antes, o Oscar Ribeiro da Cunha. Meus amigos estavam estudando na parte da manhã, eles estavam na 6ª série, eu ainda tinha que concluir a 5ª, então tive que me contentar em estudar no período vespertino, algo que me deixou um tanto quanto contrariado, pois alguém estava de manhã, e eu não iria compartilhar da tua companhia, ‘O melhor lugar do mundo é a boa companhia, ou a sua companhia’. O pai comprou todos os materiais escolares daquele ano (comprou não, trocou por serviços, que não deixa de ser uma compra...) a Papelaria Montreal foi o pai que fez toda a parte de prateleiras, e houve a permuta, maravilha, tudo da melhor qualidade e quantidade. 


Algumas coisas que marcaram o mundo naquele ano já tinham acontecido, o presidente da superpotência sofreu um atentado, e o Papa, também, tentaram matar Ronald Reagan e João Paulo II. Eles não morreram, mas, um dos ídolos da minha infância, sim, Amâncio Mazzaropi, o jeca mais famoso do Brasil voltou à Pátria Espiritual naquele ano, eu adorava os filmes dele. Pelé tinha sido aclamado o atleta do século, não pelo que falava e sim pelo que jogava... Roupa Nova lançava o primeiro LP. E a bomba dos “milicos” tinha feito estrago no atentado do Riocentro. Mas, agora entra a parte da mudança. No meio do ano, os meus pais decidiram que deveríamos mudar para capital paulista. E, em casa, estava decidido, vamos mudar... Tudo foi vendido, até o Dodge Dart 1974, amarelo ouro, foi passado nos cobres, senti muito essa venda. E mudamos... 

Rua Êneas de Barros - Colégio Professor José Campos Camargo
Chegamos à terra da garoa no final do mês de julho, frio, muito frio... Eu, a mãe, e o Marcello, o pai e o Jairinho ficaram por certo tempo no Planalto Central...  Eu tinha 12 anos, tudo eram novidades, diferente e sem amigos, apenas os primos, mas, menino logo se ambienta. No dia em que cheguei à tia Neide, ela disse, ele vai ficar lá em casa (foi uma das melhores coisas), eu fui para a casa dela que ficava na Rua Enéas de Barros, as primas da mesma idade a Deborah e a Claudia logo me apresentaram praticamente toda a rua... A tia fez a matricula no Colégio Professor José Campos Camargo, horário completamente atípico pra quem estava acostumado em Rio Verde, em Sampa as aulas começavam 15:20 e terminavam às 19:20, não se usava o uniforme tradicional, calça cáqui e camisa branca com bolso bordado, era apenas um avental branco. No Oscar, eu tinha 12 matérias no ‘Camarguinho’ eram apenas seis, mas que valiam por 24, e os materiais não foram aproveitados... Agora imagina dois ‘capiauzinhos’ vindo do interior do país e chegar numa sala de aula de uma metrópole... Os colegas perguntavam se os índios andavam pelados nas ruas da minha cidade e se víamos onças por perto, essa era a imagem que pintavam do Brasil Central. Pra finalizar essa parte eu não me adaptei ao sistema imposto pela escola e reprovei... Meu terceiro colégio e segunda 5ª série que ia para o vinagre... 

Parque do Piqueri
Passando para parte boa, eram os tempos das descobertas, das mudanças de comportamento... Ali na ‘Enéas’ tive a primeira namorada a Elisabete, morena cor de jambo e belo sorriso. Os bons tempos das feiras de sábado e as noites nas calçadas. Ali também fiz bons amigos, Paulinho, Pedrinho, Ricardo, Rogério, Raul e o Keller. Fiquei um tempo na casa da tia, quando o pai chegou fomos morar na Rua Embiruçu (como dizia a Claudia, era uma rua que sobe e desce e o número nunca aparece), mas pouco ficava lá o meu mundinho era na Enéas...

Parque do Piqueri 1981

Um fato que marcou aquele ano foi o casamento da adorável e inesquecível prima Cosete. Ela casou no dia 21 de novembro, na Igreja de São Carlos no Tatuapé, 30 anos se passaram e eu nunca mais fui a um casamento tão maravilhoso quanto aquele, foi a primeira vez que comi caviar e calcei um tênis Topper. Naquela noite, um amigo antigo do meu pai, que eu só conheci de ouvir falar e tive a oportunidade de conhecer naquela noite, ele ficou muito feliz em me conhecer, foi a primeira e última vez que vi, me presenteou com uma bela nota de Cr$ 500 para que eu fosse visitá-lo, ele tinha bebido um tanto quanto além da conta, e não era para menos, fora servido ’Whisky Buchanan Special Reserve’. Na porta da igreja, estacionado um Del Rey azul 0 km que conduziria os noivos para lua de mel. Tempos depois a Cosete e o Osmar me proporcionaram uma bela imagem, foram eles que me levaram para ver o mar... “Foi assim, como ver o mar. Foi a primeira vez que eu vi o mar. Onda azul, todo azul do mar. Daria pra beber todo azul do mar. Foi quando mergulhei no azul do mar. “ Escrevo essa crônica na noite de 15 de novembro, aniversário dela, essa história simplesmente foi para relembrar a Cosete, nesse ano fez 20 anos que ela retornou ao Plano Maior. No dia em que ela partiu, escrevi na minha agenda “Está faltando uma peça no quebra cabeça, perde a graça, no quadro falta algo que não completa...” Acabou aquele ano e no início de 82 retornei para Rio Verde... 


   


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Se eu morrer antes de você - Fábio Trancolin





segunda-feira, 11 de novembro de 2013

No vai e vem da pá, o grão dourado, vira aqui e vira pra lá...


Fábio Trancolin

Rua Almiro de Moraes - Secando arroz 1976

No vai e vem da pá, vira aqui e vira pra lá... E nesse vai e vem o arroz ia secando... Serviço árduo que era realizado nos outonos dos anos 70 e que foi até 83/84 nas ruas de Rio Verde... Nem todas as ruas recebiam os grãos dourados, as mais utilizadas eram a João Belo e a Augusta Bastos, naqueles tempos o trânsito era “devagar” e a quantidade de carros era bem menor (e põe menor nisso), mas, outras ruas, também, recebiam os caminhões e seus chapas, nas proximidades do estádio Mozart Veloso do Carmo e mais algumas. 


Lembro-me do meu Tio Lázaro da Silva (Tio Zuza) no seu velho e bom Chevrolet 64, fazendo frete e transportando a safra, lá ia ele na roça no volante do “brutu” buscar a colheita. Então, entravam em cena os “chapas” que eram contratados para descarregar os caminhões e, aos poucos iam distribuídos os grãos na via, em pouco tempo, ela estava praticamente tomada, deixavam um corredor para que os carros pudessem passar... E lá ficavam expostos, e os trabalhadores de hora em hora iam revirando o arroz com seus rodos enormes.  E, suando em bicas, protetor solar, eles nem sabiam o que era isso. O cheiro invadia o ar, com o passar dos tempos, descobriram que aquele pó expelido pela palha faziam um mal danado, o meu pai sabe bem o que é isso, na minha casa, fez estrago na saúde dos meninos.  


O final da tarde vinha se aproximando e era a hora de começar a recolher, rodo que vai e rodo que vem, juntava aos montes no meio da rua, então, entravam em cena as latas de 18 litros, que mergulhavam na montanha dourada, e era despejada nas bocas abertas dos sacos de aniagem, em pouco tempo, ele já estava de pé na espera da agulha e do fitilho nas mãos hábeis do “costureiro”. Terminada a amarra, os sacos eram tombados, à espera da turma que amontoaria as pilhas que fariam a alegria da molecada. Eu fiz parte dessa molecada, como escalei essas pilhas. E, no outro dia, tudo de novo, espalhavam o “agulhinha”, e vai e vem, vira que vira... Depois da secagem, os caminhões levavam para o beneficiamento. 


Em algumas vezes, ocorriam problemas, e o pior que poderia acontecer para essa turma, era um drama chamado chuva, quando ela vinha de repente, causava estrago. E os grãos desciam na enxurrada e eram despejados no córrego Barrinha. Mas, na maioria das vezes, tudo corria dentro do previsto. E, depois de ser beneficiado a “Oryza Sativa” alimenta mais da metade da população mundial. É a terceira maior cultura cerealífera do mundo, o Brasil é o 9º maior produtor de arroz do mundo. Hoje, Rio Verde não produz mais arroz, perdeu espaço para o milho e, a rainha da vez, a soja. Tem aquele produtor que planta para o consumo. E depois de tanta labuta e de toda a via sacra, ele chegava na mesa das famílias para formar o casal perfeito, “Arroz e feijão...”.


                                              





segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Nos tempos da bela infância...


Fábio Trancolin





Lendo o livro de recordações que está guardado na memória, retorno mais uma vez nos tempos da bela infância... Tanto tempo passou, anos e anos vão se acumulando na contagem da ampulheta do tempo, a areia esvai-se... Bateu saudades do tempo da pequena cidade, e dos meus amigos. Eu voltei ao passado, e lembrei-me de vocês... E me vejo na quadra do Tiro de Guerra, ah! Como eu gostava do TG, lá eu passava os meus dias, não importava se era segunda ou sexta, domingo ou feriado... Lá estava eu com o meu kichute, camisa do Palmeiras e o calçãozinho verde, esse era o meu uniforme... Como eu era feliz, com os meus gols gritando “Toninho do Palmeiras”... Eu morava no casarão branco da Rua 12 de outubro, com um quintal enorme e suas jabuticabeiras e mangueiras... “Frutas em qualquer quintal, portas e janelas ficam sempre abertas...”. 

Rua 12 de outubro - Em frente ao Tiro de Guerra - 1978
Um pouco abaixo, ficava a casa do Junior, ponto de encontro da molecada, o portão estava sempre cheio, lá reuniam todos, o Eder, Ki-suco, Mário, Batata, Peru, Tigre, Buião, Rogério, Sergio, Paulinho Rola, Silvano (Careca), Duti, Cleomar, Afonso Gambá, Chininha, Murilo, Cleber, Carlinhos Queijinho e o Jairinho... Eram tantos, desculpe por não ter citados todos, mas com certeza estão guardados na memória da emoção. A cadeia velha (Hoje o Palácio da Intendência), palco de tantas brincadeiras, os morcegos que ao cair da tarde abandonavam os seus esconderijos e saiam em revoadas, sempre tinha alguém para derrubá-los com as camisas ao vento, eles saíam e os pardais voltavam em barulhenta algazarra... O tempo urge, mas nesse caso ele “ruge”, ele te chama para ver que o tempo voa... Vem andar e voa... Vem andar e voa...


As mudanças vêm, sempre vieram... Mas, naquele tempo, elas demoravam a chegar, ou não percebíamos... Sonho semeando o mundo real. E hoje na “descartabilidade” de tudo, até o ser humano é descartável... E é bom de vez em quando parar e analisarmos essas mudanças... Gosto de recordar... Da janela da cadeia velha vejo, ao fundo, o cerrado, vê o horizonte deitar o chão... Da janela o horizonte... A liberdade de uma estrada eu posso ver... O meu pensamento voa livre em sonhos... Aos poucos as mudanças começaram com algumas casas em frente ao campestre e se transformaram no Solar Campestre e, de repente, tantos bairros novos... E o Solar invadiu o nosso espaço (não foi com os raios de sol, foi com pedra e concreto), as desbarrancadas e seus mistérios na madrugada. O jatobá, o velho jatobá acabou não existe mais, no tempo das brincadeiras de ‘polícia e ladrão’ ele era o QG.

Cadeia Velha 

Descendo um pouco mais, tinha a quadra dos bancários, o Seu Dulcindo e a sua família tomavam conta do clube, os filhos com seus nomes diferentes para época, Frankcione, Dulcinéi e Ericsson, a filha, o nome era mais fácil, Eliana... E falando em Clube dos Bancários, lembro-me de um fato, os meninos fizeram um buraco na lateral dos vestiários, esse furo foi feito com um cabo de vassoura, só que esse plano foi por água abaixo, sacanagem, alguém viu e, na minha vez, eu não consegui ver nada, alguém me viu, gritou (tem alguém olhando)... Ouviu-se um grito, pega! Só viu moleque correndo... Só via pé de mamona quebrando...


Outro caso que vem na memória foi o desacato ao Sargento Barbosa, na frente da tropa eu o mandei ir pra aquele lugar... Foi de momento, coisa de menino, só que eu tive que correr, e correr muito, se ele me pegasse, eu estava perdido, sorte que ele não me alcançou... Também, eu e o Mário (filho do sargento) brigávamos duas vezes por dia e, naquele dia, ele mandou o filho me acertar uma pedrada, pois nos tapa, ele tinha levado uns tabefes, ele atendeu ao pedido do pai, e eu desembestei a distribuir palavrões... Como nós brigávamos... É bacalhau...! Mas no fundo nos adorávamos, o velho parceiro de bola... Depois eu fui até a casa dele e pedi desculpas...


O Júnior era o bom companheiro, na infância, na adolescência, sempre estivemos juntos, o meu velho e bom amigo... O meu grande amigo... Ele tinha uma bicicleta amarela que não tinha garupa, eu andava no guidom e imitava uma sirene (já imaginou a cena?). Sempre íamos para a Praça Mariano para aprontar, como aprontávamos. Lembro de uma vez, nós estávamos lá e alguém teve uma ideia... Vinha um cara subindo a rua e estava sozinho... O plano era o seguinte, eu deveria ficar sozinho e “xingar” o cidadão, enquanto os outros ficariam escondidos... Assim foi feito, ‘xinguei’ o individuo, ele me viu sozinho pequeno e magrinho, e veio todo nervoso e alterado, porém quando ele chegou perto, todos saíram de seus esconderijos, perguntando se ele iria bater no menino, a cena foi hilária... E eu parecendo um pombo com o peito estufado.  

Clube Campestre 1977 - Acervo Jadir Carvalho
Na sexta-feira, tinha seresta no clube campestre, e lá estávamos nós na ponte do córrego do sapo, com as nossas bombinhas e rojões, para azucrinar quem por lá passava em direção ao clube... A molecada não tinha ideia... Era bomba pra tudo que era lado... Também, tinham os nossos amigos da vila do matadouro, gente boa aquela... Atravessávamos a pinguela do córrego do sapo e chegávamos nas represas... Passávamos pelo córrego galinha, naquela época não existia a rodoviária, tudo aquilo era pasto e nosso espaço, não havia a Morada do sol, a Presidente Vargas terminava na curva para o cemitério, as gabirobas e os araticuns... O sonho de matar um anum preto (coisa de moleque...). As alfaces do Takecho, ele era um japonês que cultivava uma grande horta, e a molecada saía vendendo alface em grandes bacias... O tempo passou, passou, mas não dá para esquecer... Que saudades daqueles tempos... Nós não tínhamos dinheiro, mas para que dinheiro o que nós tínhamos dinheiro não comprava...